Capítulo I – O Começo
Eu nunca fui uma pessoa muito sensata, eu era manipulável e sempre achei que se não fizesse as coisas que meus amigos faziam eu não me encaixaria. O problema era que eu nunca tive os melhores amigos do mundo, eles eram poucos e eram péssimos. Minha vida não chegava nem perto da perfeição, eu nunca soube quem era meu pai, nem minha mãe mesmo sabe, ela é do tipo de mulher que gosta bastante de sexo e nunca viu problema em sair transando com quem não conhecia e foi isso que ela fez em uma festa nove meses antes de eu nascer, transou exatamente com três caras sendo que o último ela nem lembrava o rosto, então algumas semanas depois ela descobriu que estava grávida e meses depois eu vim ao mundo. Ela sempre espalhou a história de que o pai da filha dela não quis reconhecer a mesma, ela nunca contou nem mesmo para minha vó que não fazia a menor ideia de quem poderia ser meu pai, a história da minha vida ela contou apenas para mim no meu aniversário de dez anos quando decidiu que eu já tinha maturidade para saber disso, e me fez jurar de pés juntos e mão para o alto de que eu não contaria isso para ninguém, ela não queria ficar mais mal falada do que já era. Claro que eu fiquei traumatizada com aquilo, eu nem sabia que uma mulher poderia transar com alguém que não fosse seu marido, quando eu tinha um ano minha mãe me deixou com minha vó e foi ganhar o mundo, voltava mês sim e mês não para ver como eu estava e deixava algum dinheiro, por isso eu com toda minha inocência e fé na humanidade, me senti horrorizada com aquilo, eu tinha descoberto o sexo com aquela mesma idade porque minha vó descuidou e eu acabei vendo uma cena de um filme onde um homem e uma mulher faziam sexo, não era nada demais, mas eu fiquei muito curiosa e perguntei para minha vó o que era aquilo e ela teve que me explicar. A casa mais próxima da fazenda da minha vó ficava há uns cinco quilômetros por isso nunca tive muito contato com o mundo, minha vida era ajudar minha vó na fazendo, ter aulas a tarde e brincar por ai. Isso funcionou bem até minha mãe resolver que queria me levar para Nova Iorque, então a vida começou a me desvirtuar quando eu tinha treze anos.
Eu tive medo, eu era uma criança caipira em uma cidade enorme, eu nunca tinha visto tantos prédios, tantos carros e tantas pessoas, nem mesmo nos programas que minha vó me permitia assistir. Mas eu também me sentia pronta para desbravar um novo lugar, para começar a viver de verdade, porém eu com toda minha inocência e nenhum conselho da minha mãe fora o - “der para quem quiser, mas use camisinha” – não soube seguir um rumo certo. Sabe aquela fase que os seios já estão proeminentes, que o corpo está se desenvolvendo e os meninos estão com os hormônios à flor da pele? Eu era tão inocente... claro que eu tinha noção de algumas coisas, mas outras eram quase inexistente para mim. Por isso que quando Collin Dylan, o garota mais lindo e desejado da escola, me beijou e apalpou meu corpo, eu deixei. Eu não gostei, é claro, mas achei que se o impedisse eu ia sair como bobona, e eu queria ser descolada, queria deixar de ser apenas uma caipira na cidade grande, mas se eu soubesse tudo que aconteceria comigo, eu nunca se quer tinha saído da fazendo da minha vó. Com quatorze anos eu já estava envolvida com as drogas, e não foi difícil me convencerem a isso, eles soltaram aquelas frases famosinhas de: “É só um trago”, “Deixa de ser careta”, “Isso é normal”, “Vamos lá gata, só um pouquinho”... E o “pouquinho” virou vários outros pouquinhos que, de repente, já eram “poucões”, e eu me viciei. Quatorze anos, não era mais virgem desde os treze, me embebedava desde essa mesma idade e com quatorze anos já era viciada, já era mais uma perdida no mundo, mais uma alma tragada pela escuridão.
Minha mãe trabalhava, e quando não estava no trabalho estava dando para todo ser que tinha um pênis, então ela não olhava mais para mim, e nesse estágio da minha vida eu já não tinha nenhuma inocência. Era lei eu passar o dia na rua, dormir fora de casa, embebedar-me, dar para Collin e qualquer outro cara que também quisesse. E aquela garotinha doce, que outrora não sabia nada sobre a vida, já não existia mais; e aquela doçura que eu tanto gostava, certamente nunca mais retornaria. Eu já era um cadáver, tudo que eu fui um dia já havia há muito tempo partido, não existia mais esperança para mim; não existia mais esperança para a garotinha que habitava no lugar mais escuro do meu ser gritando por socorro. Só… não existia mais esperança.
Mas na vida sempre acontece uma mudança, você acorda achando que o dia será apenas mais um dia como todos os outros que você tem, mas ele não é, ninguém pode ficar para sempre no fundo do poço, há um momento que devemos ser erguidos. Esse momento aconteceu quando eu tinha dezoito anos, e o responsável por isso foi . Ah! Ele era tão doce, sensato, brincalhão... Ele tinha uma coisa... sabe quando você olha para uma pessoa, troca apenas uma palavra com ela e sente que você tem que levá-la para o resto de sua vida? Que você quer ter aquela pessoa todos os dias, que você precisa dela, precisa do seu sorriso e da sua forma positiva de ver o mundo por mais podre que ele seja? era assim. Eu o conheci em um parque, mas não foi um encontro nada romântico, longe disso. Eu não estava em um dos meus melhores dias, aliás, eu nunca tinha bons dias, mas daquela vez eu estava péssima. Fazia quase trinta e seis horas que eu não dormia, virei a noite em festas, em lugares diferentes me embebedando e fazendo coisas que garotas ajuizadas não fariam, então quando, finalmente, voltei para casa para ter meu merecido sono, o peguete da vez da minha adorável mãe tentou me agarrar. Ele era forte, mas não era dois e não foi páreo para o chute que recebeu no meio das pernas. Eu estava com meus coturnos pretos e, acreditem, eles eram senhores coturnos, minha mãe podia esquecer aquele cara, porque seu brinquedinho não entraria mais em nenhum playgroud. Depois do chute sai de casa para dar tempo ao babaca para fazer o mesmo, então fui para o parque mais próximo. Eu com certeza estava um lixo, mas não me importava nem um pouco com aquilo, fazia tempos que eu não importava com a opinião de ninguém, queria mais era que o mundo se explodisse… Bem, até ver ele. Ele estava brincado com um cachorro Golden Retriever e céus! Ele era tão lindo! Tão lindo... Não, não o cachorro, quer dizer, o cachorro também era, mas seu dono era um puta de um belo colírio. Depois de admirar o pacote maravilhoso que era, comecei a ver tudo por partes e a primeira coisa que reparei minuciosamente foi seu sorriso de causar desmaios. Céus, ele sorria! E aquele sorriso não era brincadeira não, seus dentes ficavam todos expostos e eles eram todos branquíssimos, ao contrário dos meus. Ele também tinha aqueles buraquinhos nas bochechas e seu lábio inferior era maior que o superior, e eram tão vermelhinhos que meu estômago deu cambalhotas e saltos triplos só de me imaginar encostando meus lábios ali. Depois reparei em seus olhos, não dava muito para ver a cor deles porquê eu não estava tão perto assim, mas eles não eram grandes demais e nem pequenos demais. E tinha também aquele nariz fininho, não ao ponto de torná-lo parecido com uma mulher, mas sim ao ponto de formar um conjunto lindo naquele rosto maravilhoso. E seu corpo… não sei se posso descrevê-lo sem formar uma poça em meus pés. Ele era bronzeado, o que indicava que não era de Nova Iorque, seus braços eram definidos e suas pernas pareciam firmes, era essa a impressão que seu short passava. Eu não fazia ideia de como era seu peitoral e barriga, mas com certeza era de endoidar um. Eu me senti uma vampira zumbi perto dele, sério, era como se eu estivesse vindo de outro planeta e fui repelida no lugar errado, de repente eu dei conta de mim; dei conta de mim como há muito tempo eu não fazia, naquele momento eu queria que meus cabelos fossem menos lisos, e que eles não estivessem tão oleosos em cima e ressecados embaixo, queria muito que minha pele não tivesse a aparência de uma pessoa que passou quase a vida toda em uma masmorra e que eu não estivesse tão magra e nem vestida com aquela roupa preta desbotada e fedendo a fumaça e bebida alcoólica. Céus! Eu sentia vontade de cavar um buraco ali mesmo e me jogar nele para ver se eu sumia, minhas unhas de bruxa tinham que ter alguma utilidade.
Eu estava tão embasbaca admirando a obra prima que era que não reparei no frisbee que vinha certeiro em minha direção, é claro que se eu não tivesse fora de mim tinha como eu ter desviado daquilo, mas eu não desviei porque obviamente eu estava fora de mim, e de repente ele chocou-se em minha testa e então eu estava no chão jurando que tinha passarinhos amarelos e roxos voando ao redor de minha cabeça. Abri os olhos e Deus só podia ter me levado porquê eu estava vendo a face de um anjo… estava com o rosto pairando sobre o meu, sua expressão era preocupadíssima. Ele tocou levemente minha testa, o que me causou tremeliques tanto pela dor que senti como pelo contato da mão dele em minha pele. Ele se desculpou, — e se desculpou muito — mas não dei nem bola, porque estava mais interessada naquela voz maravilhosamente enrouquecida do que em suas palavras. Com certeza, eu estava parecendo uma drogada, não que isso fosse novidade é claro. Ele me levantou e ressaltou as desculpas e a preocupação, mas eu mal o ouvia, me drogou com seus olhos, que eram de um azul escuro fabuloso. Ele chegou à conclusão que eu não estava realmente bem, eu deveria estar com uma cara muito retardada, mas mal sabia ele que eu nem mais sentia a dor na testa, longe disso, vê-lo me anestesiou, foi como se eu tivesse recebido uma grande dosagem de morfina na veia.
Ele tentou de todas as formas me levar ao hospital, mas eu disse para ele que era bobagem, que eu estava bem, mas ele era insistente. Azar o dele, eu também era, eu tinha pavor de hospital, de agulhas, toda vez que eu via algum amigo usando heroína eu saia de perto, ver aquela agulhinha entrando na pele me dava calafrios. Quando eu era pequena eu cai do cavalo, sofri ferimentos graves e todo aquele tempo no hospital foi aterrorizante demais, e todas aquelas agulhas... aght! Então chegamos a um impasse de que eu precisaria apenas de um gelo na testa. Ele me deixou sentada na grama com seu cachorro me fazendo companhia e me proibiu de fazer qualquer movimento, então foi atrás de gelo e voltou com um saco. Coloquei o gelo na testa e ficamos conversando por duas horas inteiras. Ele me disse seu nome, disse que nasceu na Califórnia, mas tinha se mudado recentemente para Nova Iorque para continuar a faculdade de arquitetura e que queria sair da barra da saia de sua mãe. Ele tinha vinte anos, dois irmãos mais velhos, três melhores amigos e estava gostando muito da sua experiência em Nova Iorque. Eu também falei sobre mim, nada muito revelador já que eu me sentia imunda ao seu lado, então eu omiti bastantes fatos porque minha história era basicamente: “ , drogada, dezoito anos, não faz merda nenhuma da vida e transa com caras que não conhece”, mas o que contei foi: “ , dezoito anos, não faria faculdade porque não me interessei por isso, nenhum irmão, alguns melhores amigos e fazia cinco anos que eu morava em Nova Iorque”.
Depois de se certificar que o galo em minha testa estava bem menor, ele me deixou parar de usar o gelo e fez questão de me levar até em casa, apesar de eu ter insistido que não precisava. Mas era só charme, claro que precisava; eu precisava da sua companhia e daquela felicidade toda que ele possuía, pela primeira vez em muito tempo eu me sentia bem, me sentia viva. Ele me deixou na frente da minha casa e me passou seu número dizendo para eu ligar ou mandar mensagem para ele informando sobre o estado da minha testa. Eu quase virei manteiga ali na calçada, mas consegui me controlar. Depois de se despedir de mim com um beijo na bochecha — que eu queria muito que ele não tivesse dado porque certamente meu cheiro não estava bom — eu entrei em casa – não sem antes olhar para trás e perceber que ele continuava parado, com as mãos nos bolsos, e um sorriso delicado moldando seus perfeitos lábios - Então dentro de casa eu pude virar manteiga, depois virei manteiga no meu banheiro esfregando todo meu corpo fortemente com uma bucha para tirar toda a sujeira, e virei uma manteiga em minha cama enquanto dormia e sonhava durante quase minhas dezesseis horas de sono com . Eu liguei para ele, claro que liguei e uma conversa foi levando a outra e quando desliguei o celular, ele marcava mais de uma hora de ligação, coisa que nunca havia acontecido antes, nunca fui de ficar pendurada no telefone com ninguém, mas só de pensar em desligar eu já me sentia... vazia.
Eu tive medo, eu era uma criança caipira em uma cidade enorme, eu nunca tinha visto tantos prédios, tantos carros e tantas pessoas, nem mesmo nos programas que minha vó me permitia assistir. Mas eu também me sentia pronta para desbravar um novo lugar, para começar a viver de verdade, porém eu com toda minha inocência e nenhum conselho da minha mãe fora o - “der para quem quiser, mas use camisinha” – não soube seguir um rumo certo. Sabe aquela fase que os seios já estão proeminentes, que o corpo está se desenvolvendo e os meninos estão com os hormônios à flor da pele? Eu era tão inocente... claro que eu tinha noção de algumas coisas, mas outras eram quase inexistente para mim. Por isso que quando Collin Dylan, o garota mais lindo e desejado da escola, me beijou e apalpou meu corpo, eu deixei. Eu não gostei, é claro, mas achei que se o impedisse eu ia sair como bobona, e eu queria ser descolada, queria deixar de ser apenas uma caipira na cidade grande, mas se eu soubesse tudo que aconteceria comigo, eu nunca se quer tinha saído da fazendo da minha vó. Com quatorze anos eu já estava envolvida com as drogas, e não foi difícil me convencerem a isso, eles soltaram aquelas frases famosinhas de: “É só um trago”, “Deixa de ser careta”, “Isso é normal”, “Vamos lá gata, só um pouquinho”... E o “pouquinho” virou vários outros pouquinhos que, de repente, já eram “poucões”, e eu me viciei. Quatorze anos, não era mais virgem desde os treze, me embebedava desde essa mesma idade e com quatorze anos já era viciada, já era mais uma perdida no mundo, mais uma alma tragada pela escuridão.
Minha mãe trabalhava, e quando não estava no trabalho estava dando para todo ser que tinha um pênis, então ela não olhava mais para mim, e nesse estágio da minha vida eu já não tinha nenhuma inocência. Era lei eu passar o dia na rua, dormir fora de casa, embebedar-me, dar para Collin e qualquer outro cara que também quisesse. E aquela garotinha doce, que outrora não sabia nada sobre a vida, já não existia mais; e aquela doçura que eu tanto gostava, certamente nunca mais retornaria. Eu já era um cadáver, tudo que eu fui um dia já havia há muito tempo partido, não existia mais esperança para mim; não existia mais esperança para a garotinha que habitava no lugar mais escuro do meu ser gritando por socorro. Só… não existia mais esperança.
Mas na vida sempre acontece uma mudança, você acorda achando que o dia será apenas mais um dia como todos os outros que você tem, mas ele não é, ninguém pode ficar para sempre no fundo do poço, há um momento que devemos ser erguidos. Esse momento aconteceu quando eu tinha dezoito anos, e o responsável por isso foi . Ah! Ele era tão doce, sensato, brincalhão... Ele tinha uma coisa... sabe quando você olha para uma pessoa, troca apenas uma palavra com ela e sente que você tem que levá-la para o resto de sua vida? Que você quer ter aquela pessoa todos os dias, que você precisa dela, precisa do seu sorriso e da sua forma positiva de ver o mundo por mais podre que ele seja? era assim. Eu o conheci em um parque, mas não foi um encontro nada romântico, longe disso. Eu não estava em um dos meus melhores dias, aliás, eu nunca tinha bons dias, mas daquela vez eu estava péssima. Fazia quase trinta e seis horas que eu não dormia, virei a noite em festas, em lugares diferentes me embebedando e fazendo coisas que garotas ajuizadas não fariam, então quando, finalmente, voltei para casa para ter meu merecido sono, o peguete da vez da minha adorável mãe tentou me agarrar. Ele era forte, mas não era dois e não foi páreo para o chute que recebeu no meio das pernas. Eu estava com meus coturnos pretos e, acreditem, eles eram senhores coturnos, minha mãe podia esquecer aquele cara, porque seu brinquedinho não entraria mais em nenhum playgroud. Depois do chute sai de casa para dar tempo ao babaca para fazer o mesmo, então fui para o parque mais próximo. Eu com certeza estava um lixo, mas não me importava nem um pouco com aquilo, fazia tempos que eu não importava com a opinião de ninguém, queria mais era que o mundo se explodisse… Bem, até ver ele. Ele estava brincado com um cachorro Golden Retriever e céus! Ele era tão lindo! Tão lindo... Não, não o cachorro, quer dizer, o cachorro também era, mas seu dono era um puta de um belo colírio. Depois de admirar o pacote maravilhoso que era, comecei a ver tudo por partes e a primeira coisa que reparei minuciosamente foi seu sorriso de causar desmaios. Céus, ele sorria! E aquele sorriso não era brincadeira não, seus dentes ficavam todos expostos e eles eram todos branquíssimos, ao contrário dos meus. Ele também tinha aqueles buraquinhos nas bochechas e seu lábio inferior era maior que o superior, e eram tão vermelhinhos que meu estômago deu cambalhotas e saltos triplos só de me imaginar encostando meus lábios ali. Depois reparei em seus olhos, não dava muito para ver a cor deles porquê eu não estava tão perto assim, mas eles não eram grandes demais e nem pequenos demais. E tinha também aquele nariz fininho, não ao ponto de torná-lo parecido com uma mulher, mas sim ao ponto de formar um conjunto lindo naquele rosto maravilhoso. E seu corpo… não sei se posso descrevê-lo sem formar uma poça em meus pés. Ele era bronzeado, o que indicava que não era de Nova Iorque, seus braços eram definidos e suas pernas pareciam firmes, era essa a impressão que seu short passava. Eu não fazia ideia de como era seu peitoral e barriga, mas com certeza era de endoidar um. Eu me senti uma vampira zumbi perto dele, sério, era como se eu estivesse vindo de outro planeta e fui repelida no lugar errado, de repente eu dei conta de mim; dei conta de mim como há muito tempo eu não fazia, naquele momento eu queria que meus cabelos fossem menos lisos, e que eles não estivessem tão oleosos em cima e ressecados embaixo, queria muito que minha pele não tivesse a aparência de uma pessoa que passou quase a vida toda em uma masmorra e que eu não estivesse tão magra e nem vestida com aquela roupa preta desbotada e fedendo a fumaça e bebida alcoólica. Céus! Eu sentia vontade de cavar um buraco ali mesmo e me jogar nele para ver se eu sumia, minhas unhas de bruxa tinham que ter alguma utilidade.
Eu estava tão embasbaca admirando a obra prima que era que não reparei no frisbee que vinha certeiro em minha direção, é claro que se eu não tivesse fora de mim tinha como eu ter desviado daquilo, mas eu não desviei porque obviamente eu estava fora de mim, e de repente ele chocou-se em minha testa e então eu estava no chão jurando que tinha passarinhos amarelos e roxos voando ao redor de minha cabeça. Abri os olhos e Deus só podia ter me levado porquê eu estava vendo a face de um anjo… estava com o rosto pairando sobre o meu, sua expressão era preocupadíssima. Ele tocou levemente minha testa, o que me causou tremeliques tanto pela dor que senti como pelo contato da mão dele em minha pele. Ele se desculpou, — e se desculpou muito — mas não dei nem bola, porque estava mais interessada naquela voz maravilhosamente enrouquecida do que em suas palavras. Com certeza, eu estava parecendo uma drogada, não que isso fosse novidade é claro. Ele me levantou e ressaltou as desculpas e a preocupação, mas eu mal o ouvia, me drogou com seus olhos, que eram de um azul escuro fabuloso. Ele chegou à conclusão que eu não estava realmente bem, eu deveria estar com uma cara muito retardada, mas mal sabia ele que eu nem mais sentia a dor na testa, longe disso, vê-lo me anestesiou, foi como se eu tivesse recebido uma grande dosagem de morfina na veia.
Ele tentou de todas as formas me levar ao hospital, mas eu disse para ele que era bobagem, que eu estava bem, mas ele era insistente. Azar o dele, eu também era, eu tinha pavor de hospital, de agulhas, toda vez que eu via algum amigo usando heroína eu saia de perto, ver aquela agulhinha entrando na pele me dava calafrios. Quando eu era pequena eu cai do cavalo, sofri ferimentos graves e todo aquele tempo no hospital foi aterrorizante demais, e todas aquelas agulhas... aght! Então chegamos a um impasse de que eu precisaria apenas de um gelo na testa. Ele me deixou sentada na grama com seu cachorro me fazendo companhia e me proibiu de fazer qualquer movimento, então foi atrás de gelo e voltou com um saco. Coloquei o gelo na testa e ficamos conversando por duas horas inteiras. Ele me disse seu nome, disse que nasceu na Califórnia, mas tinha se mudado recentemente para Nova Iorque para continuar a faculdade de arquitetura e que queria sair da barra da saia de sua mãe. Ele tinha vinte anos, dois irmãos mais velhos, três melhores amigos e estava gostando muito da sua experiência em Nova Iorque. Eu também falei sobre mim, nada muito revelador já que eu me sentia imunda ao seu lado, então eu omiti bastantes fatos porque minha história era basicamente: “ , drogada, dezoito anos, não faz merda nenhuma da vida e transa com caras que não conhece”, mas o que contei foi: “ , dezoito anos, não faria faculdade porque não me interessei por isso, nenhum irmão, alguns melhores amigos e fazia cinco anos que eu morava em Nova Iorque”.
Depois de se certificar que o galo em minha testa estava bem menor, ele me deixou parar de usar o gelo e fez questão de me levar até em casa, apesar de eu ter insistido que não precisava. Mas era só charme, claro que precisava; eu precisava da sua companhia e daquela felicidade toda que ele possuía, pela primeira vez em muito tempo eu me sentia bem, me sentia viva. Ele me deixou na frente da minha casa e me passou seu número dizendo para eu ligar ou mandar mensagem para ele informando sobre o estado da minha testa. Eu quase virei manteiga ali na calçada, mas consegui me controlar. Depois de se despedir de mim com um beijo na bochecha — que eu queria muito que ele não tivesse dado porque certamente meu cheiro não estava bom — eu entrei em casa – não sem antes olhar para trás e perceber que ele continuava parado, com as mãos nos bolsos, e um sorriso delicado moldando seus perfeitos lábios - Então dentro de casa eu pude virar manteiga, depois virei manteiga no meu banheiro esfregando todo meu corpo fortemente com uma bucha para tirar toda a sujeira, e virei uma manteiga em minha cama enquanto dormia e sonhava durante quase minhas dezesseis horas de sono com . Eu liguei para ele, claro que liguei e uma conversa foi levando a outra e quando desliguei o celular, ele marcava mais de uma hora de ligação, coisa que nunca havia acontecido antes, nunca fui de ficar pendurada no telefone com ninguém, mas só de pensar em desligar eu já me sentia... vazia.
Capítulo II – O Meio
A partir do fatídico dia que conheci , ele vinha em minha mente a cada segundo do meu dia, estava em todos os meus pensamentos e em todos os meus sonhos, ele tinha se tornado o centro do meu mundo fodido, e por mais que eu soubesse que deveria deixá-lo bem longe do bagaço de pessoa que eu era, eu não conseguia, ele me fazia sentir diferente, me fazia sentir importante, coisa que eu nunca havia sentindo antes. Aos poucos as coisas foram acontecendo, as ligações foram se tornando cada vez mais constante e o primeiro convite para sair veio poucos dias depois que nos conhecemos. Bom, não foi bem um convite para sair, ele apenas me chamou para assistir á um jogo de futebol juntamente com seus amigos, mas foi um dia maravilhoso, me diverti a tarde toda ao seu lado e quando anoiteceu ele me deixou em casa. Duas semanas depois ele me convidou para ir a um parque de diversão, dessa vez éramos apenas nós dois, me diverti como uma criança de cinco anos, ganhou um enorme urso na barraca do tiro ao alvo e me deu e no fim da noite ele me deixou em casa. Logo depois veio o convite para ir a praia com ele e seus amigos, fui mesmo com vergonha da minha bunda magrela e minha cor de papel e passei a tarde e começo da noite me divertindo loucamente e no fim da noite me deixou em casa. E era sempre assim, e nós sempre nos despedíamos com beijos no rosto. Eu deveria achar aquilo mais que suficiente, ele estava em um lugar seguro, não estava inserido totalmente em minha vida desregrada e isso era muito bom porque eu continuava me drogando, me embebedando e frequentando festas, eu continuava um trapo de gente, só que eu me sentia um trapo mais ajeitadinho. me queria só como amiga e eu entendia isso, eu via o tanto de garotas maravilhosas que se atiravam para cima dele, ele seria louco de não ficar com nenhuma delas, seria louco de querer algo comigo. Mas ele quis. Surpreendentemente, ele quis.
Ele me ligou e me chamou para sair novamente, eu estava com um cigarro de maconha na mão e com outra coisa bem mais forte que isso já preparada para usar, já fazia dois dias que eu não usava nada e a abstinência já estava dando as caras. me chamou para jantar nossos típicos fast food cheio de queijo, bacon e muito, muito, colesterol. Deixei as drogas de lado porque eu sabia que não poderia estar chapada na presença dele e fui me arrumar. Estava muito calor, tomei um banho bem caprichado, devo ter ficado uma hora de baixo do chuveiro, lavei meu cabelo três vezes com um shampoo que a moça da farmácia havia dito que fazia mágica nos fios – mas no meu caso só mesmo um milagre - depois deixei o creme agir por vinte minutos, queria transformar meu cabelo em algo digno e não no ninho de rato que ele sempre era. Sai do banho me sentindo muito bem. Hidratei meu corpo com um hidratante que a mulher da farmácia também havia indicado e fui me vestir. Achei uma saia soltinha e florida jogada no fundo mais obscuro do meu armário, depois fui ao quarto da minha mãe raptar uma camiseta branca — porque se tinha uma coisa que eu não tinha, essa coisa era roupa branca - aproveitei que já estava ali e peguei algumas bijuterias dela também. Voltei para meu quarto, passei uma maquiagem surpreendentemente leve e calcei sandálias confortáveis, arrumei meus cabelos e me perfumei. Eu estava pronta quando ouvi a buzina do carro de , quando eu sai ele estava encostado na porta do passageiro do carro como sempre ficava quando ia me buscar em casa. Vi surpresa refletida no rosto dele, o que era normal, porque ele nunca tinha me visto ao natural, nunca andava ao natural. Ele me deu um beijo gostoso na bochecha, beijo esse que fazia coisas estrondosas com meu estômago, me elogiou, disse que eu estava muito cheirosa e abriu a porta do carro para que eu entrasse. Me surpreendi quando ele começou a sair de Nova Iorque e disse que queria ir à praia, que queria ver o pôr do sol e queria aproveitar a noite quente, e, é claro, eu não me opus a isso.
O céu estava estrelado, o vento estava refrescante e e eu estávamos sentados na areia fofinha devorando um mega hambúrguer. Tentando não me engasgar, eu gargalhava das baboseiras que ele dizia, ele sempre me fazia rir não importava qual circunstância fosse ou em que lugar estivéssemos, era como se ele soubesse que eu precisava daquilo, daqueles pequenos momentos de felicidade. Eu, no meu conformismo – e alto piedade - de que queria mesmo ser apenas meu amigo, não percebi quando o clima mudou. Já tínhamos acabado de comer e estávamos apenas aproveitando a noite, o barulho do mar, o frescor do vento… contou uma piada besta que mesmo assim me levou ao riso, então ele ficou me observando, olhou para o meu rosto todo: olhos, nariz, lábios e bochechas, me estudou e aproximou-se de mim quase colando seu rosto ao meu. Me senti congelar e me arrepiei como nunca quando ele segurou os cabelos da minha nuca e os puxou levemente. Quase tive uma parada cardíaca quando sua respiração se misturou com a minha e, com toda certeza, eu quase tive uma morte súbita quando aqueles lábios maravilhosos que tanto me tiravam dos eixos encostaram-se aos meus e aquilo não era mais um de meus incontáveis sonhos com aquele momento.
Sabe quando você quer mais que tudo descrever algo, mas lhe faltam palavras? É como se não existisse a palavra certa para aquilo que você quer descrever? Me senti exatamente assim com aquele beijo, nunca imaginei que um beijo poderia ser tão bom, nunca pensei que eu pudesse me sentir pura novamente, mas naquele momento eu senti, eu, , a garota estragada, me senti pura depois de anos. Foi uma sensação tão maravilhosa que eu não queria mais desgrudar meus lábios dos dele. Sua língua era suave contra a minha, ela provocava minha língua, a provava, a acariciava… Sua respiração se misturava com a minha como se aquela fosse a coisa mais certa do mundo. Ele mordiscava meu lábio, o acariciava com os seus e voltava a me beijar e eu só… entrava em colapso. Ele partiu o beijo e ficou com a testa encostada contra a minha, estava ofegante, eu também estava. Quando abri os olhos ele já estava com os próprios abertos e sorria. Ah, céus! Aquele sorriso maravilhoso me tirava da órbita, me dava vontade de agarrar e nunca mais soltá-lo, espreme-lo, esmagá-lo, tomar ele para mim... Ele acariciou minha nuca, me deu um selinho demorado e voltou a olhar em meus olhos.
- Eu estou apaixonado por você – Meu coração que já estava batendo forte, acelerou ainda mais. Eu mal podia acreditar naquilo, apaixonado por mim? estava apaixonado por mim? Pela garota sem futuro? Eu me sentia como se tivesse ganho um grande prêmio, logo eu que sempre fui tão azarada. Fiquei tão abobalhada que não soube o que dizer por um tempo considerável, e quando vi que sua expressão estava começando a ficar aflita, eu pulei em cima dele fazendo-o deitar na areia e voltei a beijá-lo, e o beijei, e o beijei mais um pouco e um pouco mais — e mais um pouquinho — e desgrudei nossos lábios enquanto ria.
- Eu também estou apaixonada por você, na verdade eu estou caidinha por você desde a primeira vez que te vi.
- Ah, mas isso eu já sabia – Disse bancando o engraçadinho. Eu lhe dei um leve tapa no braço e ele rolou nossos corpos deitando-se por cima de mim e acariciando meu rosto com ternura – Você é maravilhosa.
- , eu sou tudo, menos maravilhosa – Lhe sorri fraco. Ah se ele soubesse...
- Deixa disso vai, você é sim e agora eu quero beijar você até nossas bocas caírem – Gargalhei.
- E você está esperando o que? – Ele sorriu maroto e grudou nossos lábios.
Os dias que se sucederam foram como um mundo encantado. era… Uau! Ele era tão atencioso e se preocupava tanto comigo como há muito tempo ninguém fazia, me dava doces, me comprava flores, me elogiava... não nos víamos sempre porque ele tinha que se focar na faculdade, mas ele me ligava toda noite para saber como eu estava e me mandava mensagens fofas durante o dia, e eu amava quando ele escrevia que sentia minha falta, que estava pensando em mim... Eu me derretia toda, assim como me derreti no dia que fizemos amor pela primeira vez. Sim, fizemos amor. Pela primeira vez eu fiz amor com um cara e achei muito melhor do que fazer apenas sexo...
Nós dois estávamos na casa dele, alguns rapazes da faculdade moravam ali com , mas naquele dia estávamos apenas nós dois ali, coladinhos no sofá assistindo a um filme enquanto seu cachorro estava dormindo no tapete. tentava me assustar, já que o filme era de terror, mas eu amava esse tipo de filme e só me assustava realmente na hora do suspense. O filme acabou e coloquei em um programa qualquer, estava acariciando minha coxa e eu só tive consciência disso depois de um tempo. Comecei a me arrepiar e ele logo percebeu, foi impossível para ele controlar seu sorriso malicioso e eu ri de sua expressão. Logo ele estava em cima de mim e nós dois estávamos nos beijando, primeiro com doçura, depois com fúria. Ele me pegou no colo e me levou até seu quarto, me deitou devagar na cama, e antes de fazer o mesmo por cima de mim ele tirou a própria blusa e depois a minha. Não demorou para todas as nossas roupas se empilharem no chão ao lado da cama, e quando eu finalmente o senti por inteiro, foi algo intenso. Pode parecer clichê, mas eu realmente nunca senti aquilo com nenhum outro. Ali não era apenas troca de prazer, eu não estava o usando apenas para me saciar e ele também não estava agindo dessa forma, meu objetivo com homens era somente aquele, o prazer carnal, a troca de favores, mas com não. Com eu me sentia muito bem fazendo aquilo, sentia que nenhum outro levaria aquela importância toda em minha vida, teve prazer e também teve muito amor. No fim, eu deitei sobre seu peito suado e ele começou a acariciar minhas costas com as pontas dos dedos depois de ter beijado minha testa, seu peito subia e descia em um ritmo lento enquanto nossas respirações se acalmavam.
- Eu amo você – Foi assim, sem aviso prévio que ele me disse aquilo. Ah, como foi bom ouvir aquelas palavras... Tropas de borboletas agitaram-se em meu estômago e me senti uma boba quando meus olhos lacrimejaram-se. Acho que a última vez que ouvi alguém me falando aquelas palavras eu era criança. O beijei com força e olhei em seus olhos.
- Eu também amo você meu lindo, você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida – Ele sorriu maravilhado e nós voltamos a nos amar. E nos amamos por toda a tarde.
era o meu sol, meu pequeno ponto de esperança, por ele eu tinha vontade de melhorar, de largar as porcarias que eu usava, de beber menos, de parar de fazer sexo com tantos caras, eu queria fazer isso. A parte do sexo eu já havia dado um jeito, eu estava com e eu não precisava de nenhum outro. Mas as drogas era tão... difícil. Eu dizia todos os dias que seria a última vez, mas dia após dia essa última vez nunca chegava. Eu fazia o máximo para esconder isso de , eu tinha duas vidas e não conhecia minha metade escura, ele teria que ficar bem longe dela porque ele era puro e eu não queria contaminá-lo. Mas segredos nunca se mantêm, você pode dar seu máximo, você pode acreditar com toda a força que está conseguindo, que aquilo está dando certo. Mas não está. descobriu sobre minha vida desregrada e eu me senti destruída.
Eu estava há uns quatro dias sem falar com ele porque eu estava em festas, curtindo, dançando, e ficando fora de mim. Desses quatro dias, os dois primeiros eu passei chapada, completamente, no terceiro eu estava com um mal humor do cão e sentia vontade de socar qualquer um que se atrevesse a falar comigo. No quarto dia eu estava fumando e foi quando apareceu. Ele certamente bateu muito na porta da minha casa, mas eu não escutei. É claro que ele viu todas aquelas garrafas de bebidas no gramado da minha casa, e toda aquela zona, e percebeu que havia acontecido uma festa ali. Eu estava jogada na sala com uma roupa de dois dias de uso. Foi um choque vê-lo, mas apenas uma pequena descarga elétrica, eu estava meio doidona. Mas eu lembro da expressão dele, do rosto chocado, depois desacreditado, então decepção e por último, raiva. Eu estava parecendo uma mendiga e minha casa estava com um odor insuportável, não foi difícil para ele chegar a uma péssima conclusão. Ele não gritou comigo ou discutiu, ele se manteve em silêncio, neutro, o que foi bem pior. expulsou o resto de gente que estava jogada pelos cantos da minha casa, ao se certificar que não havia mais ninguém ali, ele trancou a porta e foi até onde eu estava, me pegou no colo e me levou para meu quarto. Eu lembro de ter balbuciado algumas coisas, mas não sei se ele entendeu, nem eu entendi o que estava falando. entrou no meu banheiro e tirou minha roupa, ligou o chuveiro e me colocou de baixo dele fazendo os jatos de água fria me atingirem com força, eu reclamei, mas ele não pareceu se importar nenhum pouco. Depois ele me enxugou, me vestiu e me colocou na cama, fez isso sem falar nada enquanto eu falava sem parar, a única coisa que saiu de sua boca foi um pedido para que eu dormisse, e assim eu fiz.
Acordei destruída, a luz do sol que entrava pelas brechas da minha janela feria meus olhos, minha boca estava com um gosto terrível, e eu tinha a sensação de que algo muito grave havia acontecido. Levantei da cama cambaleando e caminhei até o banheiro, escovei os dentes duas vezes para tirar aquele gosto horrível da minha boca e lavei meu rosto. Nem me atrevi a olhar no espelho, eu deveria estar mais horrível que o normal. Caminhei de volta ao quarto e quando fui pegar meu celular que estava na mesa de canto, reparei que sobre ela havia dois comprimidos e um suco de laranja. Franzi o cenho em estranheza, mas mesmo assim engoli os comprimidos e tomei todo o suco, minha cabeça estava ao ponto de explodir. Caminhei pela casa mal a reconhecendo, os cômodos estavam limpos demais e cheirando muito bem, aquela casa nunca tinha ficado limpa, sempre havia uma camada de poeira sobre os moveis, coisas jogadas pelos cantos e cheiros desagradáveis. Entrei na cozinha e assustei-me ao ver encostado na pia segurando um copo de água, então as lembranças vieram como avalanches. Ele me encontrando completamente chapada e cuidando de mim. Sua cara de decepção. A descoberta do meu segredo. Eu estava tão ferrada e me sentia tão mal.
A cozinha também estava limpa, e pela primeira vez durante muito tempo, na pia não havia nenhuma louça suja se quer. olhou para mim, sua expressão estava séria e aquele olhar de decepção me fez perder o ar.
- Você está bem? – Ele perguntou em um tom de voz vazio, senti meus olhos arderem com as lágrimas contidas e pigarreei.
- Não – Sussurrei. Ele assentiu.
- Você precisa comer – Apontou para a pequena mesa e olhei para ela vendo que ali havia um copo com suco, um sanduíche e uma salada de fruta.
Meu estomago estava embrulhado, mas mesmo assim puxei uma cadeira e me sentei. Comi tudo, não disse nada e eu também não. Me levantei com a louça suja e caminhei em direção a pia, afastou-se para que eu pudesse lavar a louça e assim o fiz e também enxuguei e a guardei tentando ganhar tempo. Mas eu sabia que eu teria que enfrentá-lo, por isso suspirei e me encostei no balcão que ficava a sua frente olhando para ele com timidez.
- Há quanto tempo você usa essas... essas coisas? – Perguntou com repugnância.
- Há quatro anos – Sussurrei. Me sentia uma criança acuada, abracei meu corpo e continuei olhando para ele mesmo querendo desviar o olhar.
- E você por nenhum momento pensou em me contar sobre isso? – Perguntou de forma dura e eu engoli em seco me encolhendo um pouco.
- E-eu queria poupá-lo.
- Eu já desconfiava dessa sua dependência – O olhei surpresa – Ah, qual é – riu irônico – Você me acha assim tão idiota, ? Seu humor oscila muito, uma hora você está bem e é a pessoa mais feliz do mundo e em uma outra hora a sensação que dá é que você quer se enfiar em uma caverna e não quer sair dali tão cedo. Você também não atende minhas ligações e nem responde minhas mensagens, some constantemente e me dá desculpas idiotas, você achou mesmo que eu acreditava nelas? — o silêncio predominou, por algum tempo na cozinha, eu estava tão, tão envergonhada — Você fica com outros caras? Porque sua casa estava cheia deles e tinha camisinhas espalhadas por todos os lados.
- Não! – Aproximei-me dele e toquei em seu peito – Por favor, não, e-eu, eu não fiquei com mais ninguém depois que começamos a nos envolver, eu juro, por favor, acredite em mim – Eu estava desesperada, ele não podia me deixar, não podia.
suspirou com pesar e tirou minhas mãos do seu peito apertando-as com carinho. Sua expressão de repente ficou triste, sua testa franzida levemente.
- É isso que você quer, ? Eu nunca conheci um dependente químico, mas já ouvi muitas histórias, já tive amigos que tinham amigos que se drogavam, já vi reportagens, já procurei as estatísticas... Essas porcarias acabam com a vida de quem as usa, eu não sei o que levou você a começar a usar isso, se foram problemas ou só curiosidade, mas você precisa parar, , você precisa parar, eu amo você e você está se destruindo por algo que não vale a pena, você é jovem, você tem uma vida toda pela frente, por favor, você precisa parar – Nessa altura lágrimas já rolavam por meus olhos e meu lábio inferior tremia.
- E-eu vou parar, prometo, eu me acomodei a essa rotina, mas eu não quero mais isso, eu vou para por você...
- Você não tem que fazer isso por mim, você tem que fazer por você. Você é maravilhosa, e precisa se reerguer – Suspirei e passeis as mãos rapidamente pelos olhos.
- Tudo bem, tudo bem – O olhei e apertou os lábios, então relaxou o corpo e me tomou em seus braços. Seu corpo quente contra o meu corpo frio era tudo de que eu precisava, então ali naqueles braços eu desabei. estava ali por mim, ninguém nunca esteve ali por mim e isso me deixou mexida. Eu não queria magoá-lo, não queria decepcioná-lo e faria de tudo para largar aquelas porcarias.
- Você vai conseguir – Ele beijou o topo da minha cabeça e eu me aconcheguei em seus braços.
Mas não, eu não consegui. Dia após dia, semana após semana, mês após mês, e nada, eu não conseguia, eu sempre dizia que era a última vez, mas a última vez se tornava várias vezes. dizia que eu precisava me internar, eu precisava de outro apoio além do dele, precisava conversar com quem entendia do assunto, ele dizia que eu estava doente, mas eu achava que não estava, então nós discutíamos, ele deixava folhetos de casas de reabilitação em cima da minha mesa de cabeceira e eu sempre jogava todos na privada ou rasgava em pedacinhos. estava tentando, ele estava se esforçando, ninguém nunca poderia dizer que ele não estava, ele sempre estava ali me dando banho, me dando comida, me colocando para dormir, me dando bronca no dia seguinte, me impulsionando e eu sempre dizendo que seria a última vez e aquilo sempre se repetindo. Com o passar do tempo eu vi o cansaço estampado no rosto de , ele mal dormia preocupado comigo, ligava de três á quatro vezes por dia para saber como eu estava e me confidenciou que passava os dias angustiando temendo receber uma ligação ruim dizendo que eu estava no hospital muito mal ou havia partido. Nossas brigas se tornaram constantes, o cansado era visível em nós dois, e a paciência de finalmente chegou ao seu fim.
- Você disse que seria a última vez ! Eu não aguento mais essa merda! Dia após dia nada muda, dia após dia você mente para mim, me faz de idiota, olha essas porcarias! – Ele ergueu a mão fechada onde estava alguns cigarros de maconha e um pino de cocaína – Chega dessa merda! CHEGA – caminhou com presa para o banheiro.
- O QUE VOCÊ VAI FAZER?! – Mais era tarde demais, ele jogou tudo na privada e deu descarga. Eu me descontrolei, deixei a raiva tomar todo meu corpo e me arrependerei pelo resto da vida por isso – SEU, SEU BABACA DE MERDA! – O empurrei com força – VOCÊ NÃO PASSA DE UM RIQUINHO METIDO A BESTA, VOCÊ SÓ PENSA EM VOCÊ...
- EU SÓ PENSO EM MIM? – Ele me interrompeu, sua voz tão alta como a minha – EU SÓ PENSO EM MIM?! EU VENHO TENTANDO, DROGA! TODO ESSE TEMPO EU VENHO TENTANDO, MAS VOCÊ ESTÁ POUCO DE FODENDO PARA ISSO, EU QUERO AJUDAR VOCÊ...
- EU NÃO PRECISO DA MERDA DA SUA AJUDA! – Gritei com tanta força que minhas cordas vocais pareciam que iam explodir – EU ESTAVA MUITO BEM ANTES DE VOCÊ APARECER NA MERDA DA MINHA VIDA E ACHAR QUE PODE MANDAR EM MIM – Respirei fundo e passei as mãos no cabelo fechando os olhos com força – Você não é nada , você não pode nada, vá viver sua vidinha perfeita cheia de conquistas babacas e me deixa em paz! EU não preciso de você, EU não preciso e não quero esse amor de merda que você tem para me oferecer, eu sempre estive muito bem sem você e vou ficar muito bem sem você!
Decepção, era pura decepção e mágoa, eu o magoei, eu o destrocei, eu escolhi as drogas ao invés de escolhê-lo, eu destruí minha vida ao invés de buscar a salvação.
foi embora da minha casa e aquela fora a última vez que o vi, ele saiu sem falar nada, seu silêncio sempre foi mais duro que suas palavras e acho que ele sempre soube disso.
Na primeira semana sem eu me sentia a maioral, a dona do mundo, consegui mais drogas e sem precisar pagar nada, voltei a minha rotina antes de conhecer e estava satisfeita com isso. Bom, até chegar a segunda semana. Na segunda semana acordei em uma cama desconhecida, fui para casa e me joguei na minha própria cama, então elas vieram, as lágrimas, sem aviso prévio, eu estava ali e de repente estava chorando, como se as comportas tivessem sido abertas do nada. E chorei, e chorei por horas e meu peito doía de saudades do , de seu sorriso fácil, de seu carinho gostoso, de sua voz rouca. Eu era pura saudade, pura dor e angustia, puro arrependimento. Peguei meu celular várias vezes para ligar para ele ou mandar uma mensagem, mas eu era muito covarde e muito orgulhosa e vou falar uma coisa para vocês... Nunca tenha orgulho demais, ele jamais te levará á algum lugar.
Conforme os dias foram passando, eu enfiei algumas coisas em minha cabeça, “ era um babaca egoísta”, “eu não precisava dele para ser feliz” e “eu fingiria que ele nunca existiu”. Aquela não era eu, eu não chorava por cara nenhum, eles que choravam por mim, eu não corria atrás de cara nenhum, eles que corriam atrás de mim. Então definitivamente eu voltei a viver como antes, vida de festa, de me drogar, de me embebedar e de fazer muito, muito sexo. E assim o tempo foi se passando e eu fui me destruindo ainda mais. Mas chega um momento que a vida te dar um tapa na cara, ela sempre fará isso e você não pode desviar, ou bater de volta. Duas opções, ou você se ferra ainda mais, ou cai na real. Acho que comigo aconteceu um pouco dos dois.
Eu acordei com a luz do sol em meu rosto, xinguei até a décima geração da família de Collin Dylan e lhe dei um tapa. Ele resmungou e virou a cabeça para o outro lado sem se importar por estar totalmente nu e com o corpo descoberto. Levantei-me da cama e me espreguicei sentindo alguns ossos estalarem, um vento fresco passou pelo meu corpo nu e eu olhei as horas. Já passava das duas da tarde de uma terça-feira. Andei pelo quarto e caminhei em direção ao banheiro, bati a porta, fiz xixi e lavei meu rosto e minha boca, virei-me para sair do cômodo e dei de cara com um espelho grande que ficava atrás da porta. Eu estava magra, isso não era novidade, claro, mas eu nunca antes tinha visto os ossos que ficam na altura das minhas bochechas e agora eu conseguia vê-los. Meu corpo estava pálido e com algumas marcas arroxeadas por todo ele. Meu cabelo estava um lixo, o preto dele contrastava de uma forma absurda com minha pele, ele estava quebradiço, seco e sujo. Minhas unhas estavam horríveis, minha maquiagem completamente borrada, meus dentes amarelados e sujos, meus olhos estavam vermelhos e a pele do meu rosto manchada. Me assustei, eu parecia um monstro, nunca antes tinha me visto tão horrível. Abracei meu corpo e me encolhi, vendo meus olhos sendo tomados pelas lágrimas. Corri para o quarto e vesti rapidamente minhas roupas, sai dali e desci as escadas me deparando com o lixão que a casa de Collin estava e com algumas pessoas, umas dormindo outras já se drogando. Corri daquela casa o mais rápido que pude e cheguei até a minha ofegante. Entrei na mesma e fui direto para meu quarto, deitei em minha cama, me encolhi em posição fetal e então chorei, chorei com o restinho de força que havia dentro de mim. Eu era mesmo um lixo e eu nunca conseguiria sair daquela vida sozinha. tinha razão, todo tempo ele tinha razão, eu precisava mesmo de ajuda. Quando o sol se pôs eu me levantei e fiquei sentada na cama olhando para o nada, suspirei e meus olhos se desviaram para o pé da minha mesa de cabeceira, e bem ali, meio escondido, estava um folheto, o peguei e li os dizeres “Não espere ser tarde demais para ser feliz” – Casa sol e lua”. Pensei que eu havia destruído todos os folhetos que havia me dado, mas aparentemente não. Fiquei olhando para aquele papel por um tempo que não consegui determinar. Me ergui de repente e o enfiei dentro do bolso de trás da minha calça. Abri a gaveta da minha mesa de cabeceira, peguei uma foto que estava lá e olhei atentamente para ela. Aquela foto foi tirada no dia do meu primeiro beijo com , nós estávamos radiantes ali, seu sorriso maravilhoso praticamente ocupava toda fotografia. Sorri fraco e meus dedos tocaram seu rosto com ternura, suspirei e guardei a foto com cuidado na minha jaqueta. Abri outra gaveta e tirei dali um saquinho com um pó branco, fiz todo aquele ritual tão conhecido e depois de ter acabado, peguei um cigarro de maconha e o acendi enquanto saia de casa batendo a porta. Andei até que o cigarro acabasse e peguei um ônibus sentando-me lá no fundo. Via as imagens passando rapidamente pela janela enquanto sentia minha cabeça girar. Surpreendente eu não pensei em nada, naquele momento eu só me sentia vazia. Desci em um ponto que ficava de frente para uma grande casa branca e adentrei os portões escuros da mesma chegando em uma recepção. Parei de frente para uma mulher que usava branco e pigarreei enquanto abria um sorriso chapado. Ela ergueu o olhar e sorriu amigavelmente.
- Eu posso ajudá-la? – Perguntou com uma expressão curiosa.
- Sim, por favor – Respirei todo o ar que meus pulmões suportaram e logo depois o soltei – Eu quero me internar.
E no dia 24 de março de 2006 eu resolvi deixar aquela vida miserável para trás e correr atrás de escrever uma nova história.
Ele me ligou e me chamou para sair novamente, eu estava com um cigarro de maconha na mão e com outra coisa bem mais forte que isso já preparada para usar, já fazia dois dias que eu não usava nada e a abstinência já estava dando as caras. me chamou para jantar nossos típicos fast food cheio de queijo, bacon e muito, muito, colesterol. Deixei as drogas de lado porque eu sabia que não poderia estar chapada na presença dele e fui me arrumar. Estava muito calor, tomei um banho bem caprichado, devo ter ficado uma hora de baixo do chuveiro, lavei meu cabelo três vezes com um shampoo que a moça da farmácia havia dito que fazia mágica nos fios – mas no meu caso só mesmo um milagre - depois deixei o creme agir por vinte minutos, queria transformar meu cabelo em algo digno e não no ninho de rato que ele sempre era. Sai do banho me sentindo muito bem. Hidratei meu corpo com um hidratante que a mulher da farmácia também havia indicado e fui me vestir. Achei uma saia soltinha e florida jogada no fundo mais obscuro do meu armário, depois fui ao quarto da minha mãe raptar uma camiseta branca — porque se tinha uma coisa que eu não tinha, essa coisa era roupa branca - aproveitei que já estava ali e peguei algumas bijuterias dela também. Voltei para meu quarto, passei uma maquiagem surpreendentemente leve e calcei sandálias confortáveis, arrumei meus cabelos e me perfumei. Eu estava pronta quando ouvi a buzina do carro de , quando eu sai ele estava encostado na porta do passageiro do carro como sempre ficava quando ia me buscar em casa. Vi surpresa refletida no rosto dele, o que era normal, porque ele nunca tinha me visto ao natural, nunca andava ao natural. Ele me deu um beijo gostoso na bochecha, beijo esse que fazia coisas estrondosas com meu estômago, me elogiou, disse que eu estava muito cheirosa e abriu a porta do carro para que eu entrasse. Me surpreendi quando ele começou a sair de Nova Iorque e disse que queria ir à praia, que queria ver o pôr do sol e queria aproveitar a noite quente, e, é claro, eu não me opus a isso.
O céu estava estrelado, o vento estava refrescante e e eu estávamos sentados na areia fofinha devorando um mega hambúrguer. Tentando não me engasgar, eu gargalhava das baboseiras que ele dizia, ele sempre me fazia rir não importava qual circunstância fosse ou em que lugar estivéssemos, era como se ele soubesse que eu precisava daquilo, daqueles pequenos momentos de felicidade. Eu, no meu conformismo – e alto piedade - de que queria mesmo ser apenas meu amigo, não percebi quando o clima mudou. Já tínhamos acabado de comer e estávamos apenas aproveitando a noite, o barulho do mar, o frescor do vento… contou uma piada besta que mesmo assim me levou ao riso, então ele ficou me observando, olhou para o meu rosto todo: olhos, nariz, lábios e bochechas, me estudou e aproximou-se de mim quase colando seu rosto ao meu. Me senti congelar e me arrepiei como nunca quando ele segurou os cabelos da minha nuca e os puxou levemente. Quase tive uma parada cardíaca quando sua respiração se misturou com a minha e, com toda certeza, eu quase tive uma morte súbita quando aqueles lábios maravilhosos que tanto me tiravam dos eixos encostaram-se aos meus e aquilo não era mais um de meus incontáveis sonhos com aquele momento.
Sabe quando você quer mais que tudo descrever algo, mas lhe faltam palavras? É como se não existisse a palavra certa para aquilo que você quer descrever? Me senti exatamente assim com aquele beijo, nunca imaginei que um beijo poderia ser tão bom, nunca pensei que eu pudesse me sentir pura novamente, mas naquele momento eu senti, eu, , a garota estragada, me senti pura depois de anos. Foi uma sensação tão maravilhosa que eu não queria mais desgrudar meus lábios dos dele. Sua língua era suave contra a minha, ela provocava minha língua, a provava, a acariciava… Sua respiração se misturava com a minha como se aquela fosse a coisa mais certa do mundo. Ele mordiscava meu lábio, o acariciava com os seus e voltava a me beijar e eu só… entrava em colapso. Ele partiu o beijo e ficou com a testa encostada contra a minha, estava ofegante, eu também estava. Quando abri os olhos ele já estava com os próprios abertos e sorria. Ah, céus! Aquele sorriso maravilhoso me tirava da órbita, me dava vontade de agarrar e nunca mais soltá-lo, espreme-lo, esmagá-lo, tomar ele para mim... Ele acariciou minha nuca, me deu um selinho demorado e voltou a olhar em meus olhos.
- Eu estou apaixonado por você – Meu coração que já estava batendo forte, acelerou ainda mais. Eu mal podia acreditar naquilo, apaixonado por mim? estava apaixonado por mim? Pela garota sem futuro? Eu me sentia como se tivesse ganho um grande prêmio, logo eu que sempre fui tão azarada. Fiquei tão abobalhada que não soube o que dizer por um tempo considerável, e quando vi que sua expressão estava começando a ficar aflita, eu pulei em cima dele fazendo-o deitar na areia e voltei a beijá-lo, e o beijei, e o beijei mais um pouco e um pouco mais — e mais um pouquinho — e desgrudei nossos lábios enquanto ria.
- Eu também estou apaixonada por você, na verdade eu estou caidinha por você desde a primeira vez que te vi.
- Ah, mas isso eu já sabia – Disse bancando o engraçadinho. Eu lhe dei um leve tapa no braço e ele rolou nossos corpos deitando-se por cima de mim e acariciando meu rosto com ternura – Você é maravilhosa.
- , eu sou tudo, menos maravilhosa – Lhe sorri fraco. Ah se ele soubesse...
- Deixa disso vai, você é sim e agora eu quero beijar você até nossas bocas caírem – Gargalhei.
- E você está esperando o que? – Ele sorriu maroto e grudou nossos lábios.
Os dias que se sucederam foram como um mundo encantado. era… Uau! Ele era tão atencioso e se preocupava tanto comigo como há muito tempo ninguém fazia, me dava doces, me comprava flores, me elogiava... não nos víamos sempre porque ele tinha que se focar na faculdade, mas ele me ligava toda noite para saber como eu estava e me mandava mensagens fofas durante o dia, e eu amava quando ele escrevia que sentia minha falta, que estava pensando em mim... Eu me derretia toda, assim como me derreti no dia que fizemos amor pela primeira vez. Sim, fizemos amor. Pela primeira vez eu fiz amor com um cara e achei muito melhor do que fazer apenas sexo...
Nós dois estávamos na casa dele, alguns rapazes da faculdade moravam ali com , mas naquele dia estávamos apenas nós dois ali, coladinhos no sofá assistindo a um filme enquanto seu cachorro estava dormindo no tapete. tentava me assustar, já que o filme era de terror, mas eu amava esse tipo de filme e só me assustava realmente na hora do suspense. O filme acabou e coloquei em um programa qualquer, estava acariciando minha coxa e eu só tive consciência disso depois de um tempo. Comecei a me arrepiar e ele logo percebeu, foi impossível para ele controlar seu sorriso malicioso e eu ri de sua expressão. Logo ele estava em cima de mim e nós dois estávamos nos beijando, primeiro com doçura, depois com fúria. Ele me pegou no colo e me levou até seu quarto, me deitou devagar na cama, e antes de fazer o mesmo por cima de mim ele tirou a própria blusa e depois a minha. Não demorou para todas as nossas roupas se empilharem no chão ao lado da cama, e quando eu finalmente o senti por inteiro, foi algo intenso. Pode parecer clichê, mas eu realmente nunca senti aquilo com nenhum outro. Ali não era apenas troca de prazer, eu não estava o usando apenas para me saciar e ele também não estava agindo dessa forma, meu objetivo com homens era somente aquele, o prazer carnal, a troca de favores, mas com não. Com eu me sentia muito bem fazendo aquilo, sentia que nenhum outro levaria aquela importância toda em minha vida, teve prazer e também teve muito amor. No fim, eu deitei sobre seu peito suado e ele começou a acariciar minhas costas com as pontas dos dedos depois de ter beijado minha testa, seu peito subia e descia em um ritmo lento enquanto nossas respirações se acalmavam.
- Eu amo você – Foi assim, sem aviso prévio que ele me disse aquilo. Ah, como foi bom ouvir aquelas palavras... Tropas de borboletas agitaram-se em meu estômago e me senti uma boba quando meus olhos lacrimejaram-se. Acho que a última vez que ouvi alguém me falando aquelas palavras eu era criança. O beijei com força e olhei em seus olhos.
- Eu também amo você meu lindo, você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida – Ele sorriu maravilhado e nós voltamos a nos amar. E nos amamos por toda a tarde.
era o meu sol, meu pequeno ponto de esperança, por ele eu tinha vontade de melhorar, de largar as porcarias que eu usava, de beber menos, de parar de fazer sexo com tantos caras, eu queria fazer isso. A parte do sexo eu já havia dado um jeito, eu estava com e eu não precisava de nenhum outro. Mas as drogas era tão... difícil. Eu dizia todos os dias que seria a última vez, mas dia após dia essa última vez nunca chegava. Eu fazia o máximo para esconder isso de , eu tinha duas vidas e não conhecia minha metade escura, ele teria que ficar bem longe dela porque ele era puro e eu não queria contaminá-lo. Mas segredos nunca se mantêm, você pode dar seu máximo, você pode acreditar com toda a força que está conseguindo, que aquilo está dando certo. Mas não está. descobriu sobre minha vida desregrada e eu me senti destruída.
Eu estava há uns quatro dias sem falar com ele porque eu estava em festas, curtindo, dançando, e ficando fora de mim. Desses quatro dias, os dois primeiros eu passei chapada, completamente, no terceiro eu estava com um mal humor do cão e sentia vontade de socar qualquer um que se atrevesse a falar comigo. No quarto dia eu estava fumando e foi quando apareceu. Ele certamente bateu muito na porta da minha casa, mas eu não escutei. É claro que ele viu todas aquelas garrafas de bebidas no gramado da minha casa, e toda aquela zona, e percebeu que havia acontecido uma festa ali. Eu estava jogada na sala com uma roupa de dois dias de uso. Foi um choque vê-lo, mas apenas uma pequena descarga elétrica, eu estava meio doidona. Mas eu lembro da expressão dele, do rosto chocado, depois desacreditado, então decepção e por último, raiva. Eu estava parecendo uma mendiga e minha casa estava com um odor insuportável, não foi difícil para ele chegar a uma péssima conclusão. Ele não gritou comigo ou discutiu, ele se manteve em silêncio, neutro, o que foi bem pior. expulsou o resto de gente que estava jogada pelos cantos da minha casa, ao se certificar que não havia mais ninguém ali, ele trancou a porta e foi até onde eu estava, me pegou no colo e me levou para meu quarto. Eu lembro de ter balbuciado algumas coisas, mas não sei se ele entendeu, nem eu entendi o que estava falando. entrou no meu banheiro e tirou minha roupa, ligou o chuveiro e me colocou de baixo dele fazendo os jatos de água fria me atingirem com força, eu reclamei, mas ele não pareceu se importar nenhum pouco. Depois ele me enxugou, me vestiu e me colocou na cama, fez isso sem falar nada enquanto eu falava sem parar, a única coisa que saiu de sua boca foi um pedido para que eu dormisse, e assim eu fiz.
Acordei destruída, a luz do sol que entrava pelas brechas da minha janela feria meus olhos, minha boca estava com um gosto terrível, e eu tinha a sensação de que algo muito grave havia acontecido. Levantei da cama cambaleando e caminhei até o banheiro, escovei os dentes duas vezes para tirar aquele gosto horrível da minha boca e lavei meu rosto. Nem me atrevi a olhar no espelho, eu deveria estar mais horrível que o normal. Caminhei de volta ao quarto e quando fui pegar meu celular que estava na mesa de canto, reparei que sobre ela havia dois comprimidos e um suco de laranja. Franzi o cenho em estranheza, mas mesmo assim engoli os comprimidos e tomei todo o suco, minha cabeça estava ao ponto de explodir. Caminhei pela casa mal a reconhecendo, os cômodos estavam limpos demais e cheirando muito bem, aquela casa nunca tinha ficado limpa, sempre havia uma camada de poeira sobre os moveis, coisas jogadas pelos cantos e cheiros desagradáveis. Entrei na cozinha e assustei-me ao ver encostado na pia segurando um copo de água, então as lembranças vieram como avalanches. Ele me encontrando completamente chapada e cuidando de mim. Sua cara de decepção. A descoberta do meu segredo. Eu estava tão ferrada e me sentia tão mal.
A cozinha também estava limpa, e pela primeira vez durante muito tempo, na pia não havia nenhuma louça suja se quer. olhou para mim, sua expressão estava séria e aquele olhar de decepção me fez perder o ar.
- Você está bem? – Ele perguntou em um tom de voz vazio, senti meus olhos arderem com as lágrimas contidas e pigarreei.
- Não – Sussurrei. Ele assentiu.
- Você precisa comer – Apontou para a pequena mesa e olhei para ela vendo que ali havia um copo com suco, um sanduíche e uma salada de fruta.
Meu estomago estava embrulhado, mas mesmo assim puxei uma cadeira e me sentei. Comi tudo, não disse nada e eu também não. Me levantei com a louça suja e caminhei em direção a pia, afastou-se para que eu pudesse lavar a louça e assim o fiz e também enxuguei e a guardei tentando ganhar tempo. Mas eu sabia que eu teria que enfrentá-lo, por isso suspirei e me encostei no balcão que ficava a sua frente olhando para ele com timidez.
- Há quanto tempo você usa essas... essas coisas? – Perguntou com repugnância.
- Há quatro anos – Sussurrei. Me sentia uma criança acuada, abracei meu corpo e continuei olhando para ele mesmo querendo desviar o olhar.
- E você por nenhum momento pensou em me contar sobre isso? – Perguntou de forma dura e eu engoli em seco me encolhendo um pouco.
- E-eu queria poupá-lo.
- Eu já desconfiava dessa sua dependência – O olhei surpresa – Ah, qual é – riu irônico – Você me acha assim tão idiota, ? Seu humor oscila muito, uma hora você está bem e é a pessoa mais feliz do mundo e em uma outra hora a sensação que dá é que você quer se enfiar em uma caverna e não quer sair dali tão cedo. Você também não atende minhas ligações e nem responde minhas mensagens, some constantemente e me dá desculpas idiotas, você achou mesmo que eu acreditava nelas? — o silêncio predominou, por algum tempo na cozinha, eu estava tão, tão envergonhada — Você fica com outros caras? Porque sua casa estava cheia deles e tinha camisinhas espalhadas por todos os lados.
- Não! – Aproximei-me dele e toquei em seu peito – Por favor, não, e-eu, eu não fiquei com mais ninguém depois que começamos a nos envolver, eu juro, por favor, acredite em mim – Eu estava desesperada, ele não podia me deixar, não podia.
suspirou com pesar e tirou minhas mãos do seu peito apertando-as com carinho. Sua expressão de repente ficou triste, sua testa franzida levemente.
- É isso que você quer, ? Eu nunca conheci um dependente químico, mas já ouvi muitas histórias, já tive amigos que tinham amigos que se drogavam, já vi reportagens, já procurei as estatísticas... Essas porcarias acabam com a vida de quem as usa, eu não sei o que levou você a começar a usar isso, se foram problemas ou só curiosidade, mas você precisa parar, , você precisa parar, eu amo você e você está se destruindo por algo que não vale a pena, você é jovem, você tem uma vida toda pela frente, por favor, você precisa parar – Nessa altura lágrimas já rolavam por meus olhos e meu lábio inferior tremia.
- E-eu vou parar, prometo, eu me acomodei a essa rotina, mas eu não quero mais isso, eu vou para por você...
- Você não tem que fazer isso por mim, você tem que fazer por você. Você é maravilhosa, e precisa se reerguer – Suspirei e passeis as mãos rapidamente pelos olhos.
- Tudo bem, tudo bem – O olhei e apertou os lábios, então relaxou o corpo e me tomou em seus braços. Seu corpo quente contra o meu corpo frio era tudo de que eu precisava, então ali naqueles braços eu desabei. estava ali por mim, ninguém nunca esteve ali por mim e isso me deixou mexida. Eu não queria magoá-lo, não queria decepcioná-lo e faria de tudo para largar aquelas porcarias.
- Você vai conseguir – Ele beijou o topo da minha cabeça e eu me aconcheguei em seus braços.
Mas não, eu não consegui. Dia após dia, semana após semana, mês após mês, e nada, eu não conseguia, eu sempre dizia que era a última vez, mas a última vez se tornava várias vezes. dizia que eu precisava me internar, eu precisava de outro apoio além do dele, precisava conversar com quem entendia do assunto, ele dizia que eu estava doente, mas eu achava que não estava, então nós discutíamos, ele deixava folhetos de casas de reabilitação em cima da minha mesa de cabeceira e eu sempre jogava todos na privada ou rasgava em pedacinhos. estava tentando, ele estava se esforçando, ninguém nunca poderia dizer que ele não estava, ele sempre estava ali me dando banho, me dando comida, me colocando para dormir, me dando bronca no dia seguinte, me impulsionando e eu sempre dizendo que seria a última vez e aquilo sempre se repetindo. Com o passar do tempo eu vi o cansaço estampado no rosto de , ele mal dormia preocupado comigo, ligava de três á quatro vezes por dia para saber como eu estava e me confidenciou que passava os dias angustiando temendo receber uma ligação ruim dizendo que eu estava no hospital muito mal ou havia partido. Nossas brigas se tornaram constantes, o cansado era visível em nós dois, e a paciência de finalmente chegou ao seu fim.
- Você disse que seria a última vez ! Eu não aguento mais essa merda! Dia após dia nada muda, dia após dia você mente para mim, me faz de idiota, olha essas porcarias! – Ele ergueu a mão fechada onde estava alguns cigarros de maconha e um pino de cocaína – Chega dessa merda! CHEGA – caminhou com presa para o banheiro.
- O QUE VOCÊ VAI FAZER?! – Mais era tarde demais, ele jogou tudo na privada e deu descarga. Eu me descontrolei, deixei a raiva tomar todo meu corpo e me arrependerei pelo resto da vida por isso – SEU, SEU BABACA DE MERDA! – O empurrei com força – VOCÊ NÃO PASSA DE UM RIQUINHO METIDO A BESTA, VOCÊ SÓ PENSA EM VOCÊ...
- EU SÓ PENSO EM MIM? – Ele me interrompeu, sua voz tão alta como a minha – EU SÓ PENSO EM MIM?! EU VENHO TENTANDO, DROGA! TODO ESSE TEMPO EU VENHO TENTANDO, MAS VOCÊ ESTÁ POUCO DE FODENDO PARA ISSO, EU QUERO AJUDAR VOCÊ...
- EU NÃO PRECISO DA MERDA DA SUA AJUDA! – Gritei com tanta força que minhas cordas vocais pareciam que iam explodir – EU ESTAVA MUITO BEM ANTES DE VOCÊ APARECER NA MERDA DA MINHA VIDA E ACHAR QUE PODE MANDAR EM MIM – Respirei fundo e passei as mãos no cabelo fechando os olhos com força – Você não é nada , você não pode nada, vá viver sua vidinha perfeita cheia de conquistas babacas e me deixa em paz! EU não preciso de você, EU não preciso e não quero esse amor de merda que você tem para me oferecer, eu sempre estive muito bem sem você e vou ficar muito bem sem você!
Decepção, era pura decepção e mágoa, eu o magoei, eu o destrocei, eu escolhi as drogas ao invés de escolhê-lo, eu destruí minha vida ao invés de buscar a salvação.
foi embora da minha casa e aquela fora a última vez que o vi, ele saiu sem falar nada, seu silêncio sempre foi mais duro que suas palavras e acho que ele sempre soube disso.
Na primeira semana sem eu me sentia a maioral, a dona do mundo, consegui mais drogas e sem precisar pagar nada, voltei a minha rotina antes de conhecer e estava satisfeita com isso. Bom, até chegar a segunda semana. Na segunda semana acordei em uma cama desconhecida, fui para casa e me joguei na minha própria cama, então elas vieram, as lágrimas, sem aviso prévio, eu estava ali e de repente estava chorando, como se as comportas tivessem sido abertas do nada. E chorei, e chorei por horas e meu peito doía de saudades do , de seu sorriso fácil, de seu carinho gostoso, de sua voz rouca. Eu era pura saudade, pura dor e angustia, puro arrependimento. Peguei meu celular várias vezes para ligar para ele ou mandar uma mensagem, mas eu era muito covarde e muito orgulhosa e vou falar uma coisa para vocês... Nunca tenha orgulho demais, ele jamais te levará á algum lugar.
Conforme os dias foram passando, eu enfiei algumas coisas em minha cabeça, “ era um babaca egoísta”, “eu não precisava dele para ser feliz” e “eu fingiria que ele nunca existiu”. Aquela não era eu, eu não chorava por cara nenhum, eles que choravam por mim, eu não corria atrás de cara nenhum, eles que corriam atrás de mim. Então definitivamente eu voltei a viver como antes, vida de festa, de me drogar, de me embebedar e de fazer muito, muito sexo. E assim o tempo foi se passando e eu fui me destruindo ainda mais. Mas chega um momento que a vida te dar um tapa na cara, ela sempre fará isso e você não pode desviar, ou bater de volta. Duas opções, ou você se ferra ainda mais, ou cai na real. Acho que comigo aconteceu um pouco dos dois.
Eu acordei com a luz do sol em meu rosto, xinguei até a décima geração da família de Collin Dylan e lhe dei um tapa. Ele resmungou e virou a cabeça para o outro lado sem se importar por estar totalmente nu e com o corpo descoberto. Levantei-me da cama e me espreguicei sentindo alguns ossos estalarem, um vento fresco passou pelo meu corpo nu e eu olhei as horas. Já passava das duas da tarde de uma terça-feira. Andei pelo quarto e caminhei em direção ao banheiro, bati a porta, fiz xixi e lavei meu rosto e minha boca, virei-me para sair do cômodo e dei de cara com um espelho grande que ficava atrás da porta. Eu estava magra, isso não era novidade, claro, mas eu nunca antes tinha visto os ossos que ficam na altura das minhas bochechas e agora eu conseguia vê-los. Meu corpo estava pálido e com algumas marcas arroxeadas por todo ele. Meu cabelo estava um lixo, o preto dele contrastava de uma forma absurda com minha pele, ele estava quebradiço, seco e sujo. Minhas unhas estavam horríveis, minha maquiagem completamente borrada, meus dentes amarelados e sujos, meus olhos estavam vermelhos e a pele do meu rosto manchada. Me assustei, eu parecia um monstro, nunca antes tinha me visto tão horrível. Abracei meu corpo e me encolhi, vendo meus olhos sendo tomados pelas lágrimas. Corri para o quarto e vesti rapidamente minhas roupas, sai dali e desci as escadas me deparando com o lixão que a casa de Collin estava e com algumas pessoas, umas dormindo outras já se drogando. Corri daquela casa o mais rápido que pude e cheguei até a minha ofegante. Entrei na mesma e fui direto para meu quarto, deitei em minha cama, me encolhi em posição fetal e então chorei, chorei com o restinho de força que havia dentro de mim. Eu era mesmo um lixo e eu nunca conseguiria sair daquela vida sozinha. tinha razão, todo tempo ele tinha razão, eu precisava mesmo de ajuda. Quando o sol se pôs eu me levantei e fiquei sentada na cama olhando para o nada, suspirei e meus olhos se desviaram para o pé da minha mesa de cabeceira, e bem ali, meio escondido, estava um folheto, o peguei e li os dizeres “Não espere ser tarde demais para ser feliz” – Casa sol e lua”. Pensei que eu havia destruído todos os folhetos que havia me dado, mas aparentemente não. Fiquei olhando para aquele papel por um tempo que não consegui determinar. Me ergui de repente e o enfiei dentro do bolso de trás da minha calça. Abri a gaveta da minha mesa de cabeceira, peguei uma foto que estava lá e olhei atentamente para ela. Aquela foto foi tirada no dia do meu primeiro beijo com , nós estávamos radiantes ali, seu sorriso maravilhoso praticamente ocupava toda fotografia. Sorri fraco e meus dedos tocaram seu rosto com ternura, suspirei e guardei a foto com cuidado na minha jaqueta. Abri outra gaveta e tirei dali um saquinho com um pó branco, fiz todo aquele ritual tão conhecido e depois de ter acabado, peguei um cigarro de maconha e o acendi enquanto saia de casa batendo a porta. Andei até que o cigarro acabasse e peguei um ônibus sentando-me lá no fundo. Via as imagens passando rapidamente pela janela enquanto sentia minha cabeça girar. Surpreendente eu não pensei em nada, naquele momento eu só me sentia vazia. Desci em um ponto que ficava de frente para uma grande casa branca e adentrei os portões escuros da mesma chegando em uma recepção. Parei de frente para uma mulher que usava branco e pigarreei enquanto abria um sorriso chapado. Ela ergueu o olhar e sorriu amigavelmente.
- Eu posso ajudá-la? – Perguntou com uma expressão curiosa.
- Sim, por favor – Respirei todo o ar que meus pulmões suportaram e logo depois o soltei – Eu quero me internar.
E no dia 24 de março de 2006 eu resolvi deixar aquela vida miserável para trás e correr atrás de escrever uma nova história.
Capítulo III – O Fim
Sorri para a garotinha que corria alegremente pela grama verde e lhe joguei um beijo quando ela fez o mesmo. Há um ano e meio atrás eu resolvi que precisava resolver um mistério da minha vida, talvez o maior dela, então conversei com minha mãe e perguntei sobre os homens que poderiam ser meu pai, ela não disse muita coisa - afinal, qual pessoa com um grande teor de álcool no sangue se lembra de cem por cento de sua noite? - Mas fiz bom uso de suas palavras, investiguei e acabei encontrando Richard Thompson e Jordan Rick, os dois caras que ela se lembrava, o terceiro foi impossível de encontrar, por isso eu torcia muito para que eu não precisasse dele. Foi um choque para Richard e Jordan quando lhes contei sobre minha história, eles lembravam-se vagamente de minha mãe e disseram que depois daquela noite nunca mais tinham voltado a vê-la. Eles toparam fazer o exame de DNA. A mulher de Jordan não ficou muito feliz com isso, eles têm três filhos e levavam uma vida boa. Já Richard era viúvo há dois meses, tinha uma filha de dois anos e não fazia a menor ideia de como cuidar da garotinha, eles não tinham nenhum parente por perto. Quando os exames ficaram prontos, nós três fomos pegá-lo, o primeiro que abrimos foi o que tinha o nome de Jordan e a palavra “negativo” estava lá para quem quisesse ver. Ele me pareceu um pouquinho aliviado, sua vida era perfeita demais para ser estragada por uma bastarda. Já era menos um, se o de Richard também desse negativo eu voltaria à estaca zero. Mas eu estava mais esperançosa que o normal, não sei se era porque eu queria muito um pai, mas eu achei algumas características minha nele e segundo ele eu era muito parecida com sua mãe quando a mesma era mais nova. Quando abri o exame lá estava a palavra “positivo”. Eu fiquei tão feliz, eu finalmente tinha um pai, mesmo que eu já fosse criada e não precisasse tanto assim dele, passei vinte e quatro anos da minha vida sem saber quem era ele, mas ele finalmente estava ali na minha frente. Eu não o culpava por ter crescido sem ele ao meu lado, ele nem sabia da minha existência, não tinha porque procurar por uma filha que ele não tinha a mínima ideia que tinha. Nós dois fomos tomar um café, ele disse que eu era muito bem-vinda em sua vida, que aquilo era uma surpresa para ele, mas que não tinha achado de um todo ruim e só precisava se acostumar com a ideia.
Nós fomos nos aproximando aos poucos, nos víamos sempre que dava, conversávamos sobre minha vida, sobre a vida dele e sobre nossos gostos. Eu não escondi nada sobre mim, fiz questão de contar sobre tudo, sobre todos os meus dias ruins e minha superação, me senti muito feliz quando ele disse que se orgulhava de mim. Nos dávamos muito bem e eu achava aquilo ótimo, sempre tive medo do meu pai ser um babaca, mas Richard passava longe desse estereótipo. Depois de alguns meses ele me surpreendeu com o convite para morar com ele, e apesar de um pouco apreensiva, eu fui. Minha mãe naquela altura da vida já estava mais ajuizada e tinha ido morar com minha vó, porque ela já não tinha mais idade de viver só. Eu comecei a ver o alívio de Richard por me ter em sua vida nos momentos que eu cuidava de Bella, ela era um doce de criança e me apaixonei por ela no momento que a vi, não era sacrifício nenhum cuidar da garotinha. A hora que eu mais gostava era quando nós três nos sentávamos à mesa as sete horas da noite para o jantar. Richard sentava na ponta, eu me sentava em seu lado esquerdo e Bella sentava-se ao meu lado para que eu pudesse ajudá-la a comer, então nós conversávamos. Richard me perguntava sobre a faculdade e eu perguntava sobre o trabalho dele, ele possuí uma empresa de construção civil que só crescia a cada dia. Aos fins de semana, saíamos nós três e era sempre divertido. Richard era hilário, e apesar de ter perdido a esposa, ele se esforçava para ficar bem, em pouco tempo já estava me chamando de filha e eu via em suas atitudes que ele realmente me considerava assim.
Estava um belo dia, eu estava em um parque com Bella, ela amava quando eu a levava em um por isso eu fazia questão de tirar algumas horas do meu dia para passear com ela. A garotinha correu em minha direção e eu me abaixei para abraçá-la, a abracei bem forte fazendo-a soltar um gritinho e logo depois gargalhar, sorri e a soltei, voltei a me levantar e foi naquele momento que eu o vi. Eu não acreditava que ele estava ali, achava que meus olhos estavam me enganando, a última notícia que eu havia tido de foi que ele havia voltado para a Califórnia, mas lá estava ele, brincando com Marley, o seu inseparável Golden Retriever. Ah, ele estava tão lindo! — uma pausa para rir. — estava lindo, não Marley. Quer dizer... Marley também estava lindo, mas estava... maduro. Não era mais aquele menino-homem que eu me lembrava, não sei o porquê, mas ele me parecia maior e seus cabelos estavam curtos, mas seus lábios, nariz e olhos, estavam exatamente do jeito que eu me lembrava. E sabe o que mais me tirou do eixo? Foi o fato dele já está olhando para mim quando o vi, ele estava ali, parado e me olhando com o cenho franzindo com uma expressão de “eu conheço você, mas não tenho certeza se é realmente você”. Eu havia mudado, radicalmente, tinha ganhado peso, meus seios estavam até maiores, o que eu achei maravilhoso. Minha pele já não lembrava mais papel e também não era mais manchada, meus olhos não eram mais vermelhos, meus lábios não eram mais rachados, minhas roupas já não eram escuras e meu cabelo grande, preto feito petróleo e oleoso na raiz e seco nas pontas havia dado lugar a um cabelo na altura dos ombros com a parte da frente maior que a de trás, loiro e completamente sedoso. Resolvi voltar com a cor natural deles e quando ele chegou no resultado que eu queria, me perguntei que problema eu tinha para tê-los pintado de preto. Eu sorri para , e então sua expressão incerta deu lugar a surpresa. Ouvi um latido alto e logo depois a bola de pelo marrom estava voando em minha direção e me derrubando na grama. Marley lambia meu rosto com felicidade enquanto eu tentava afastá-lo, ele estava eufórico, eu ria apesar de estar sufocando com ele em cima de mim, então em um minuto ele não estava mais lá, estava sendo segurado por . Ele me pediu mil desculpas e perguntou se eu estava bem. Ah, aquela voz... Aquela voz maravilhosa que tanto mexia comigo. Durante os anos eu senti a falta de , ele foi o grande amor da minha vida, e, de certa forma, foi a minha salvação, eu lamentava muito por tê-lo o afastado. Durante minha internação, eu lutei para não procurá-lo, ele não merecia mais o peso que ele mesmo disse que eu era, mas quando eu sai da clínica, eu fui atrás dele, mas quem eu encontrei foi um de seus amigos. Ele me disse que não morava mais em NY, me perguntou se eu queria o número dele, mas eu disse que não, talvez ele nem se lembrasse mais de mim. Eu nunca o culpei por ter desistido, por ele ter ido embora, se eu tivesse no lugar dele eu também teria desistido, ninguém é obrigado a suportar os problemas dos outros, ainda mais esses “outros” não querendo se livrar do tal problema, se a pessoa não queria ajuda o que era que poderia ser feito além de lastimar e dar as costas?
Eu sorri para e lembrando do nosso primeiro dialogo soltei um “não preciso ir ao hospital”. Ele franziu o cenho, mas logo sorriu com certeza também se lembrando de nossas palavras de quando nos conhecemos há sete anos atrás e perguntou se eu não precisava nem de gelo, eu ri e disse que também não precisaria disso. Bella estava brincando com Marley e sentou-se ao meu lado. Ele me olhava como se não acreditasse que aquela era realmente eu e eu o olhava não acreditando que ele estava mesmo ali, depois de tanto tempo, ele estava ali. E o mais incrível era que eu sentia tudo aquilo que sentia por ele a sete anos, eu realmente achei que havia me esquecido de todos aqueles sentimentos, que estava em minhas lembranças apenas como um cara que havia me arrancado da beira do precipício, como a única pessoa que havia se importado verdadeiramente comigo, achei que o sentimento que eu nutria por ele durante todos esses anos fosse apenas gratidão, mas ali, olhando em seus olhos, eu sabia que não era apenas isso. Estávamos em silêncio, mas eu logo fiz questão de quebrá-lo.
- , vinte e cinco anos, cursando o segundo ano de Designer. Tenho uma irmãzinha de três anos e meio e nenhum melhor amigo. Moro em Nova Iorque há doze anos. Com dezenove anos me internei em uma clínica de reabilitação e estou limpa desde então. Todo dia é uma luta, mas estou me saindo bem – Sorrindo ele disse:
- É um grande prazer conhecê-la, .
Conversamos ali mesmo enquanto observávamos Bella e Marley. disse que durante todos esses anos, continuou a pensar em mim, se perguntava como eu estaria e temia que pudesse ter me ocorrido o pior. Ele se sentia culpado por não ter estado ao meu lado enquanto eu sofria tentando livrar meu organismo das drogas, mas eu o tranquilizei e disse que não tinha ressentimento nenhum dele, na verdade eu tinha muito o que agradecer, porque foi por causa dele que eu cai na real.
Conversamos até o dia tornar-se noite e Richard me ligar preocupado por nossa demora. caminhou comigo até chegarmos á minha casa, paramos de frente para os poucos degraus e nos encaramos.
- Eu estou muito feliz por ter reencontrado você e saber que você está tão bem, você não faz ideia do peso que você tirou de minhas costas. - Eu também estou feliz por ter reencontrado você – sorri – e por saber que você não tem nenhum ressentimento por tudo que eu lhe disse.
- Eu sei que não era você falando e sim aquelas porcarias.
- Bom, eu preciso entrar.
- Claro – enfiou as mãos no bolso.
- Mas sabe, talvez você tenha que me passar seu número para caso eu não esteja assim tão boa quanto aparento, vai que seu cachorro fraturou alguma costela minha ou sei lá, se eu tiver que processá-lo, como vou encontrá-lo? – gargalhou e me olhou admirado.
- Sabe, acho que essa era a hora que eu sairia correndo, mas eu não tenho medo de um bom processo, tenho bons amigos advogados – Sorriu maroto.
Me despedi de com um beijo carinhoso em sua bochecha e ele só foi embora quando se certificou que eu havia entrado em casa. E sim... Ele me passou seu número.
***
Sorri com carinho ao ver ajoelhado ao lado do berço de nossa filha, ele segurava sua mãozinha gordinha enquanto explicava para ela atentamente que o bicho papão estava colocando a filhinha dele na cama também e iria zelar pelo sono dela a noite toda, por isso não apareceria ali tão cedo. Aos poucos vi a expressão de preocupação dela dando lugar a uma expressão de alívio. Ele beijou sua testa com demora e depois entre seus olhos, nossa menininha sorriu e fechou os olhos não demorando a dormir. saiu do quarto e me abraçou depositando um selinho demorado em meus lábios.
- Você é muito bom com ela.
- Faço de tudo para que nossa menininha seja feliz – Sorri acariciando seu rosto.
- Ela tem muita sorte por ter você – Ele me apertou em seus braços.
- Ela tem muita sorte por ter a nós dois.
Beijei e ele nos guiou vagarosamente até o quarto. Nós entramos no banheiro e nos despimos para tomar um banho... e fazer mais do que isso.
Fazia sete anos que e eu éramos marido e mulher, e quase dois anos que tínhamos nossa pequena Aurora. e eu não perdemos tempo, nós tínhamos pressa. Liguei para ele na mesma noite do nosso reencontro, marcamos um jantar para o dia seguinte, falamos tudo o que desejávamos falar um para o outro e resolvemos tentar. Em uma conversa mais seria eu lhe disse que mudei por mim, mas que se ele não tivesse aparecido em minha vida eu não tinha certeza se essa mudança aconteceria. Ele me teve de volta e eu o tive de volta, e meses depois já estávamos casados e eu estava tento os melhores anos da minha vida, nunca pensei que poderia ser tão feliz. Meu Deus! A felicidade era tanta que às vezes parecia que eu iria explodir. E a coisa só melhorou quando eu descobri que Aurora estava a caminho. Ah, minha princesinha, alegrou minha vida e a de desde o primeiro momento que soubemos de sua existência... era todo bobão com a filha e lhe fazia todas as vontades, mesmo eu brigando com ele por mimá-la tanto.
Depois de sairmos do banho nós nos preparamos para dormir, me deitei em minha cama e deitou-se atrás de mim me abraçando e levando sua mão até minha barriga de quase nove meses, levei a minha mão até a dele e entrelacei nossos dedos. Estávamos eufóricos, essa gravidez não havia sido planejada, aconteceu durante uma troca de remédios, mas nem por isso ela não havia sido bem vinda. Eu teria outro bebê, dessa vez um menininho para trazer ainda mais alegria para todos nós. Depois que conheci eu ansiei por uma família grande, e segundo ele, teríamos quatro bebês fofinhos e eu não me importava nenhum pouco com isso, eu daria quantos filhos ele quisesse porque eu também queria tê-los.
Para quem está interessado em saber o que aconteceu com as pessoas do meu passado, bem, nem todas tiveram o mesmo final feliz que o meu, nem todos tiveram a força que eu tive para me livrar de todas aquelas porcarias, muitos gostavam daquela vida, aliás, eles gostavam da falsa tranquilidade que aquilo trazia, gostavam da sensação que sentiam de ser o dono do mundo, gostavam de estar em um universo alternativo onde as coisas melhoravam e eles poderiam ser o que quisessem ser. Mas tudo não passava de uma dolorosa ilusão, eu aprendi que era bem mais fácil encarar a realidade por mais dolorosa que ela seja, você nunca sabe o que vai acontecer amanhã, você nunca sabe se a qualquer momento um aparecerá em sua vida e lhe mostrará o que é um verdadeiro conto de fadas com algumas pitadas de realidade.
Eu nunca pensei que seria dona de uma felicidade tão sincera e intensa, quando comecei a me drogar e a me viciar em uma vida errada, eu nunca imaginava que poderia ser alguém, que poderia ter futuro; nunca imaginava que teria uma família que me amasse e que eu amasse incondicionalmente, eu só vivia um dia de casa vez. Mas ali estava eu, uma mulher realizada tanto profissionalmente quanto na minha vida pessoal.
- Que tal David?
- Não gostei – Fiz uma careta. Ainda não havíamos decidido o nome do bebê, estava sendo uma tarefa muito difícil. Quando descobrimos que meu primeiro bebê seria uma menina, o nome veio fácil. Aurora “aquela que é como o nascer do sol”, sempre adorei esse nome e quando disse para que queria aquele nome para nossa filha, ele concordou.
- Tá, você quer um nome diferente, mas bonito, certo? – Concordei – Então que tal, Eloy?
- Eloy – Testei o nome algumas vezes e então sorri olhando para – Gostei – Aproximei-me dele e lhe dei um selinho demorado.
- Finalmente! – Suspirou aliviado e eu ri – Essa foi uma tarefa difícil.
- Mas necessária – Voltei a beijá-lo – Outch! – Fiz uma careta e levei a mão até a barriga.
- Ele está machucando? – me olhou preocupado.
- Ele quer sair logo daqui, não é meu amor? – Acariciei minha barriga e imitou meu gesto.
- Calma ai garotão, nada de machucar a mamãe – Ele depositou um beijo em minha barriga e por incrível que pareça, o bebê aquietou-se.
- É maravilhoso como você consegue lidar com nossos filhos mesmo quando um deles ainda nem nasceu – gargalhou e me puxou para seus braços.
- Fazer o que se sou demais.
- Ah, é mesmo – Acariciei o rosto dele e fui descendo minha mão esquerda pela lateral do corpo dele até alcançar meu alvo – E que tal eu mostrar agora que eu também sou demais? – Sorri maliciosa.
- Já disse que amo seu apetite sexual no período da gravidez? – Me agarrou com força fazendo minha gargalhada escandalosa – e feliz – escoar pelo quarto.
Eu só tenho mais uma coisa a dizer... se você quer mesmo algo, por mais impossível que esse algo possa ser, vai fundo, lute, corra atrás, porque no fim qualquer sacrifício vale a pena por mais doloroso e difícil que possa ser.
Nós fomos nos aproximando aos poucos, nos víamos sempre que dava, conversávamos sobre minha vida, sobre a vida dele e sobre nossos gostos. Eu não escondi nada sobre mim, fiz questão de contar sobre tudo, sobre todos os meus dias ruins e minha superação, me senti muito feliz quando ele disse que se orgulhava de mim. Nos dávamos muito bem e eu achava aquilo ótimo, sempre tive medo do meu pai ser um babaca, mas Richard passava longe desse estereótipo. Depois de alguns meses ele me surpreendeu com o convite para morar com ele, e apesar de um pouco apreensiva, eu fui. Minha mãe naquela altura da vida já estava mais ajuizada e tinha ido morar com minha vó, porque ela já não tinha mais idade de viver só. Eu comecei a ver o alívio de Richard por me ter em sua vida nos momentos que eu cuidava de Bella, ela era um doce de criança e me apaixonei por ela no momento que a vi, não era sacrifício nenhum cuidar da garotinha. A hora que eu mais gostava era quando nós três nos sentávamos à mesa as sete horas da noite para o jantar. Richard sentava na ponta, eu me sentava em seu lado esquerdo e Bella sentava-se ao meu lado para que eu pudesse ajudá-la a comer, então nós conversávamos. Richard me perguntava sobre a faculdade e eu perguntava sobre o trabalho dele, ele possuí uma empresa de construção civil que só crescia a cada dia. Aos fins de semana, saíamos nós três e era sempre divertido. Richard era hilário, e apesar de ter perdido a esposa, ele se esforçava para ficar bem, em pouco tempo já estava me chamando de filha e eu via em suas atitudes que ele realmente me considerava assim.
Estava um belo dia, eu estava em um parque com Bella, ela amava quando eu a levava em um por isso eu fazia questão de tirar algumas horas do meu dia para passear com ela. A garotinha correu em minha direção e eu me abaixei para abraçá-la, a abracei bem forte fazendo-a soltar um gritinho e logo depois gargalhar, sorri e a soltei, voltei a me levantar e foi naquele momento que eu o vi. Eu não acreditava que ele estava ali, achava que meus olhos estavam me enganando, a última notícia que eu havia tido de foi que ele havia voltado para a Califórnia, mas lá estava ele, brincando com Marley, o seu inseparável Golden Retriever. Ah, ele estava tão lindo! — uma pausa para rir. — estava lindo, não Marley. Quer dizer... Marley também estava lindo, mas estava... maduro. Não era mais aquele menino-homem que eu me lembrava, não sei o porquê, mas ele me parecia maior e seus cabelos estavam curtos, mas seus lábios, nariz e olhos, estavam exatamente do jeito que eu me lembrava. E sabe o que mais me tirou do eixo? Foi o fato dele já está olhando para mim quando o vi, ele estava ali, parado e me olhando com o cenho franzindo com uma expressão de “eu conheço você, mas não tenho certeza se é realmente você”. Eu havia mudado, radicalmente, tinha ganhado peso, meus seios estavam até maiores, o que eu achei maravilhoso. Minha pele já não lembrava mais papel e também não era mais manchada, meus olhos não eram mais vermelhos, meus lábios não eram mais rachados, minhas roupas já não eram escuras e meu cabelo grande, preto feito petróleo e oleoso na raiz e seco nas pontas havia dado lugar a um cabelo na altura dos ombros com a parte da frente maior que a de trás, loiro e completamente sedoso. Resolvi voltar com a cor natural deles e quando ele chegou no resultado que eu queria, me perguntei que problema eu tinha para tê-los pintado de preto. Eu sorri para , e então sua expressão incerta deu lugar a surpresa. Ouvi um latido alto e logo depois a bola de pelo marrom estava voando em minha direção e me derrubando na grama. Marley lambia meu rosto com felicidade enquanto eu tentava afastá-lo, ele estava eufórico, eu ria apesar de estar sufocando com ele em cima de mim, então em um minuto ele não estava mais lá, estava sendo segurado por . Ele me pediu mil desculpas e perguntou se eu estava bem. Ah, aquela voz... Aquela voz maravilhosa que tanto mexia comigo. Durante os anos eu senti a falta de , ele foi o grande amor da minha vida, e, de certa forma, foi a minha salvação, eu lamentava muito por tê-lo o afastado. Durante minha internação, eu lutei para não procurá-lo, ele não merecia mais o peso que ele mesmo disse que eu era, mas quando eu sai da clínica, eu fui atrás dele, mas quem eu encontrei foi um de seus amigos. Ele me disse que não morava mais em NY, me perguntou se eu queria o número dele, mas eu disse que não, talvez ele nem se lembrasse mais de mim. Eu nunca o culpei por ter desistido, por ele ter ido embora, se eu tivesse no lugar dele eu também teria desistido, ninguém é obrigado a suportar os problemas dos outros, ainda mais esses “outros” não querendo se livrar do tal problema, se a pessoa não queria ajuda o que era que poderia ser feito além de lastimar e dar as costas?
Eu sorri para e lembrando do nosso primeiro dialogo soltei um “não preciso ir ao hospital”. Ele franziu o cenho, mas logo sorriu com certeza também se lembrando de nossas palavras de quando nos conhecemos há sete anos atrás e perguntou se eu não precisava nem de gelo, eu ri e disse que também não precisaria disso. Bella estava brincando com Marley e sentou-se ao meu lado. Ele me olhava como se não acreditasse que aquela era realmente eu e eu o olhava não acreditando que ele estava mesmo ali, depois de tanto tempo, ele estava ali. E o mais incrível era que eu sentia tudo aquilo que sentia por ele a sete anos, eu realmente achei que havia me esquecido de todos aqueles sentimentos, que estava em minhas lembranças apenas como um cara que havia me arrancado da beira do precipício, como a única pessoa que havia se importado verdadeiramente comigo, achei que o sentimento que eu nutria por ele durante todos esses anos fosse apenas gratidão, mas ali, olhando em seus olhos, eu sabia que não era apenas isso. Estávamos em silêncio, mas eu logo fiz questão de quebrá-lo.
- , vinte e cinco anos, cursando o segundo ano de Designer. Tenho uma irmãzinha de três anos e meio e nenhum melhor amigo. Moro em Nova Iorque há doze anos. Com dezenove anos me internei em uma clínica de reabilitação e estou limpa desde então. Todo dia é uma luta, mas estou me saindo bem – Sorrindo ele disse:
- É um grande prazer conhecê-la, .
Conversamos ali mesmo enquanto observávamos Bella e Marley. disse que durante todos esses anos, continuou a pensar em mim, se perguntava como eu estaria e temia que pudesse ter me ocorrido o pior. Ele se sentia culpado por não ter estado ao meu lado enquanto eu sofria tentando livrar meu organismo das drogas, mas eu o tranquilizei e disse que não tinha ressentimento nenhum dele, na verdade eu tinha muito o que agradecer, porque foi por causa dele que eu cai na real.
Conversamos até o dia tornar-se noite e Richard me ligar preocupado por nossa demora. caminhou comigo até chegarmos á minha casa, paramos de frente para os poucos degraus e nos encaramos.
- Eu estou muito feliz por ter reencontrado você e saber que você está tão bem, você não faz ideia do peso que você tirou de minhas costas. - Eu também estou feliz por ter reencontrado você – sorri – e por saber que você não tem nenhum ressentimento por tudo que eu lhe disse.
- Eu sei que não era você falando e sim aquelas porcarias.
- Bom, eu preciso entrar.
- Claro – enfiou as mãos no bolso.
- Mas sabe, talvez você tenha que me passar seu número para caso eu não esteja assim tão boa quanto aparento, vai que seu cachorro fraturou alguma costela minha ou sei lá, se eu tiver que processá-lo, como vou encontrá-lo? – gargalhou e me olhou admirado.
- Sabe, acho que essa era a hora que eu sairia correndo, mas eu não tenho medo de um bom processo, tenho bons amigos advogados – Sorriu maroto.
Me despedi de com um beijo carinhoso em sua bochecha e ele só foi embora quando se certificou que eu havia entrado em casa. E sim... Ele me passou seu número.
Sorri com carinho ao ver ajoelhado ao lado do berço de nossa filha, ele segurava sua mãozinha gordinha enquanto explicava para ela atentamente que o bicho papão estava colocando a filhinha dele na cama também e iria zelar pelo sono dela a noite toda, por isso não apareceria ali tão cedo. Aos poucos vi a expressão de preocupação dela dando lugar a uma expressão de alívio. Ele beijou sua testa com demora e depois entre seus olhos, nossa menininha sorriu e fechou os olhos não demorando a dormir. saiu do quarto e me abraçou depositando um selinho demorado em meus lábios.
- Você é muito bom com ela.
- Faço de tudo para que nossa menininha seja feliz – Sorri acariciando seu rosto.
- Ela tem muita sorte por ter você – Ele me apertou em seus braços.
- Ela tem muita sorte por ter a nós dois.
Beijei e ele nos guiou vagarosamente até o quarto. Nós entramos no banheiro e nos despimos para tomar um banho... e fazer mais do que isso.
Fazia sete anos que e eu éramos marido e mulher, e quase dois anos que tínhamos nossa pequena Aurora. e eu não perdemos tempo, nós tínhamos pressa. Liguei para ele na mesma noite do nosso reencontro, marcamos um jantar para o dia seguinte, falamos tudo o que desejávamos falar um para o outro e resolvemos tentar. Em uma conversa mais seria eu lhe disse que mudei por mim, mas que se ele não tivesse aparecido em minha vida eu não tinha certeza se essa mudança aconteceria. Ele me teve de volta e eu o tive de volta, e meses depois já estávamos casados e eu estava tento os melhores anos da minha vida, nunca pensei que poderia ser tão feliz. Meu Deus! A felicidade era tanta que às vezes parecia que eu iria explodir. E a coisa só melhorou quando eu descobri que Aurora estava a caminho. Ah, minha princesinha, alegrou minha vida e a de desde o primeiro momento que soubemos de sua existência... era todo bobão com a filha e lhe fazia todas as vontades, mesmo eu brigando com ele por mimá-la tanto.
Depois de sairmos do banho nós nos preparamos para dormir, me deitei em minha cama e deitou-se atrás de mim me abraçando e levando sua mão até minha barriga de quase nove meses, levei a minha mão até a dele e entrelacei nossos dedos. Estávamos eufóricos, essa gravidez não havia sido planejada, aconteceu durante uma troca de remédios, mas nem por isso ela não havia sido bem vinda. Eu teria outro bebê, dessa vez um menininho para trazer ainda mais alegria para todos nós. Depois que conheci eu ansiei por uma família grande, e segundo ele, teríamos quatro bebês fofinhos e eu não me importava nenhum pouco com isso, eu daria quantos filhos ele quisesse porque eu também queria tê-los.
Para quem está interessado em saber o que aconteceu com as pessoas do meu passado, bem, nem todas tiveram o mesmo final feliz que o meu, nem todos tiveram a força que eu tive para me livrar de todas aquelas porcarias, muitos gostavam daquela vida, aliás, eles gostavam da falsa tranquilidade que aquilo trazia, gostavam da sensação que sentiam de ser o dono do mundo, gostavam de estar em um universo alternativo onde as coisas melhoravam e eles poderiam ser o que quisessem ser. Mas tudo não passava de uma dolorosa ilusão, eu aprendi que era bem mais fácil encarar a realidade por mais dolorosa que ela seja, você nunca sabe o que vai acontecer amanhã, você nunca sabe se a qualquer momento um aparecerá em sua vida e lhe mostrará o que é um verdadeiro conto de fadas com algumas pitadas de realidade.
Eu nunca pensei que seria dona de uma felicidade tão sincera e intensa, quando comecei a me drogar e a me viciar em uma vida errada, eu nunca imaginava que poderia ser alguém, que poderia ter futuro; nunca imaginava que teria uma família que me amasse e que eu amasse incondicionalmente, eu só vivia um dia de casa vez. Mas ali estava eu, uma mulher realizada tanto profissionalmente quanto na minha vida pessoal.
- Que tal David?
- Não gostei – Fiz uma careta. Ainda não havíamos decidido o nome do bebê, estava sendo uma tarefa muito difícil. Quando descobrimos que meu primeiro bebê seria uma menina, o nome veio fácil. Aurora “aquela que é como o nascer do sol”, sempre adorei esse nome e quando disse para que queria aquele nome para nossa filha, ele concordou.
- Tá, você quer um nome diferente, mas bonito, certo? – Concordei – Então que tal, Eloy?
- Eloy – Testei o nome algumas vezes e então sorri olhando para – Gostei – Aproximei-me dele e lhe dei um selinho demorado.
- Finalmente! – Suspirou aliviado e eu ri – Essa foi uma tarefa difícil.
- Mas necessária – Voltei a beijá-lo – Outch! – Fiz uma careta e levei a mão até a barriga.
- Ele está machucando? – me olhou preocupado.
- Ele quer sair logo daqui, não é meu amor? – Acariciei minha barriga e imitou meu gesto.
- Calma ai garotão, nada de machucar a mamãe – Ele depositou um beijo em minha barriga e por incrível que pareça, o bebê aquietou-se.
- É maravilhoso como você consegue lidar com nossos filhos mesmo quando um deles ainda nem nasceu – gargalhou e me puxou para seus braços.
- Fazer o que se sou demais.
- Ah, é mesmo – Acariciei o rosto dele e fui descendo minha mão esquerda pela lateral do corpo dele até alcançar meu alvo – E que tal eu mostrar agora que eu também sou demais? – Sorri maliciosa.
- Já disse que amo seu apetite sexual no período da gravidez? – Me agarrou com força fazendo minha gargalhada escandalosa – e feliz – escoar pelo quarto.
Eu só tenho mais uma coisa a dizer... se você quer mesmo algo, por mais impossível que esse algo possa ser, vai fundo, lute, corra atrás, porque no fim qualquer sacrifício vale a pena por mais doloroso e difícil que possa ser.
Fim.
Nota da autora: Espero que eu tenha conseguido abordar bem esse tema, é algo muito polêmico sobre o qual eu sempre quis escrever, sair um pouquinho da zona de conforto né. Espero que tenham gostado e não deixem de comentar.
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